FUVEST: Resumo e análise da obra Quincas Borba, de Machado de Assis

Capa do livro publicado pela Penguin Companhia

Antes de começar a análise da obra, eu te convido a conhecer e apoiar o conteúdo criado para o blog, em especial para o Projeto Fuvest, através da minha campanha no APOIA.SE. 👈

Segundo livro analisado para o projeto de Literatura da FUVEST, Quincas Borba dá sequência a cobrança da fase realista de Machado de Assis, bem como a preferência da banca na exploração de tal escola literária.

SOBRE O AUTOR

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento (RJ). De uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade, todavia, desde cedo mostrou inclinação para as letras.

Começou a publicar poesia aos quinze anos, na Marmota Fluminense, sendo seu primeiro livro de poesia, denominado Crisálidas publicado em 1864. Após tal período, se tornou aprendiz de tipógrafo, na Imprensa Nacional. 

Ao conhecer Francisco de Paula Brito, Machado trabalhou como revisor e caixeiro e, então passou a colaborar em diversos jornais e revistas.

Seu primeiro grande romance, no entanto, foi Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881. Esta obra é considerada inicial da sua trilogia realista ou tríade machadiana (Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro). 

Tais livros possuem como características da escrita do autor  e da construção das personagens, o pessimismo e ironia, com um toque de romance (bem pouco…na minha humilde opinião).

Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias do século XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público.

Em 1897, foi eleito Presidente da Academia Brasileira de Letras, instituição que ajudara a fundar  em 1896. Machado de Assis morreu em 29 de setembro de 1908, aos 69 anos de idade.

SOBRE A OBRA

Machado de Assis é o autor que inaugura o movimento realista no Brasil

A obra Quincas Borba foi publicada inicialmente em formato de folhetim com capítulos semanais, sendo o formato livro só foi publicado em 1891. 

A figura de Quincas Borba aparece pela primeira vez em Memórias Póstumas de Brás Cubas, sendo tal personagem um filósofo e amigo de Brás Cubas que enlouquece e acaba morrendo na casa do amigo.

Tal obra faz parte da tão conhecida Tríade Machadiana, composta por Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899).

Por algum motivo, Quincas Borba recebeu uma posição intermediária aos outros dois romances, tendo em vista a narrativa ser mais convencional, menos ousada, bem como não ser narrada em primeira pessoa.

CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL

O romance encarna a situação do Brasil no século XIX, colonizado economicamente pela Inglaterra, e culturalmente pela França.

A maior parte da história se passa no Rio de Janeiro do final do século XIX (1867 a 1871). A cidade carioca era bem diferente da cidade atual, sobretudo no traçado do centro, mudado radicalmente nos primeiros anos do século XX.

Nota-se que, entender um pouco da geografia física e social da cidade do Rio de Janeiro de quando decorre a ação nos ajuda a entender o romance, ao ponto de conseguir visualizar as paisagens e os locais de moradia de cada personagem, trazendo assim, dimensões importantes do enredo e até mesmo do próprio realismo machadiano.

ESTILO NARRATIVO

Com a leitura da obra, podemos verificar que Machado de Assis se utilizou de um estilo narrativo mais social e psicológico, através de um narrador posto em dúvida com relação a fidelidade, na qual ele conta a história, bem como pela paródia de outras obras realistas, como é o caso de Madame Bovary. 

É pela utilização destes recursos que o realismo machadiano difere do realismo comum da época da obra, qual seja o naturalismo.

Acredito que vale a pena dar ênfase ao estudo do naturalismo, tendo em vista que temos outra obra de leitura obrigatória deste período, sendo esta O Cortiço de Aluísio de Azevedo (resumo em Junho de 2020).

Abaixo um quadro comparativo sobre o realismo e naturalismo:

REALISMONATURALISMO
Objetivismo e materialismoRealismo mais exagerado
Descrições e narrativas lentasHarmonia e clareza na composição
Uso de adjetivos realistasRegionalismo
Linguagem diretaLinguagem simples e impessoal
Demonstração de defeitos e detalhes da mulherDemonstração de detalhes
Subordinação do amor a interesses sociaisSensualismo e erotismo
Heróis descritos como pessoas comunsSer humano visto como um animal
Elaboração psicológica de personagens mais detalhadaPersonagens patológicas
Crítica às instituições sociaisEngajamento social
Universalismo e cientificismoDeterminismo e objetivismo científico

ENREDO

O livro tem início com Rubião na casa de Botafogo admirando a paisagem e pensando em sua vida e na sua sorte, desde que saiu da cidade de Barbacena-MG. Após este pensamento, a narrativa faz uma volta ao passado, a fim de contar ao leitor a história de Rubião.

Em Barbacena, Rubião era um professor, que com o fechamento da escola para meninos, se tornou enfermeiro e amigo de Quincas Borba, pois o mesmo estava doente.

Com relação a Quincas Borba, esta personagem é um filósofo que prega a filosofia Humanitas (humanitismo). Tal teoria foi abordada inicialmente em Memórias Póstumas de Brás Cubas, e tem como objetivo defender a expressão Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas, através do que se segue:

“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos.

Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora  e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói.”

Ao criar esta teoria, Machado de Assis faz uma sátira aos muitos “ismos” surgidos no século XIX, como o darwinismo, o positivismo e o evolucionismo. 

Tais conceitos traduzem a ideia da seleção natural, com o destaque de que o mais forte se sobressai ao mais fraco. Para exemplificar a teoria, o autor utiliza-se do exemplo das duas tribos que lutam para buscar o alimento, neste caso, as batatas.

Voltando ao enredo, com a morte de Quincas Borba, Rubião se tornou herdeiro universal de seus bens, entre eles casas na Corte, uma em Barbacena, escravos, apólices, ações do Banco do Brasil e de outras instituições, joias, dinheiro amoedado e livros

Todavia, tal herança só seria recebida desde que Rubião continuasse a cuidar zelosamente de Quincas Borba, o cachorro. 

Sim, meus leitores, o filósofo Quincas Borba deu o seu nome ao seu cachorro. Logo, a referência do nome do romance não é ao filósofo Quincas Borba, mas ao seu cachorro, cujo nome também é Quincas Borba.

Com o recebimento da herança e com a posse de Quincas Borba, o cachorro, Rubião partiu de trem para o Rio de Janeiro. Contudo, durante a viagem (precisamente na Estação de Vassouras), Rubião conhece Cristiano Palha e sua esposa Sofia, pela qual Rubião se apaixona à primeira vista, tendo em vista que Sofia tinha nesse dia os mais belos olhos do mundo.

No meio da conversa, Rubião informa o casal que está rico, devido a uma herança que lhe foi deixada, logo, o casal ambicioso vê em Rubião a possibilidade de ascender socialmente e financeiramente na sociedade carioca, que na época era a capital do Brasil.

Com a convivência entres estas três personagens, Rubião demonstra o seu interesse por Sofia, mesmo esta sendo casada com “seu amigo”. Sobre o relacionamento de Sofia e Palha, cumpre destacar que os dois formam um casal curioso e diria que até perverso. 

Palha, longe de ser o marido normal e possessivo, usa sua mulher como isca para conseguir o que quer para a sua ascensão. Já Sofia, gosta de atrair homens, desde que dentro seus próprios limites:

Não a façamos mais santa do que é, nem menos. Para as despesas da vaidade, bastavam-lhe os olhos, que eram ridentes, inquietos, convidativos, e só convidativos: podemos compará-los à lanterna de uma hospedaria em que não houvesse cômodos para hóspedes. A lanterna fazia parar toda a gente, tal era a lindeza da cor, e a originalidade dos emblemas; parava, olhava e andava. Para que escancarar as janelas? Escancarou-as, finalmente; mas a porta, se assim podemos chamar ao coração, essa estava trancada e retrancada.

Aqui, é possível ver um triângulo, que de amoroso não tem nada. Em uma das pontas, nós temos Rubião, o homem que existe para ser ludibriado; na outra, nós temos Cristiano Palha, o homem que explora e trai o outro; e Sofia, a mulher fascinante e também traiçoeira.

O papel da mulher também é ressaltado no decorrer do romance dentro do contexto do matrimônio, presente na vida de todas as personagens femininas. Tal perspectiva é fruto de uma época em que as mulheres precisavam aceitar o casamento, muitas vezes sem amor, como forma de sobrevivência (sobre este tema, indico a leitura da minha resenha de Orgulho e Preconceito).  Como diria D. Fernanda, um marido, ainda sendo mau, sempre é melhor que o melhor dos sonhos

Sobre o nosso protagonista e a sua derrocada, Rubião leva a outros extremos as imaginações de Palha (o baronato, o banco, a viagem para a Europa…), o suposto amor correspondido entre e Sofia, a ganância de Camacho (o poder, a política sem escrúpulos…) e das outras personagens, pois todos devaneiam até certo ponto, mas Rubião as leva a outra dimensão, neste caso, à loucura.

Ademais, o nosso protagonista já carrega consigo significados históricos e políticos que na sua essência são simbólicos, tendo em vista que ele representa não uma classe ou um sexo, mas o Brasil.

 No final do romance, já no auge de sua loucura, Rubião volta para Barbacena e morre:

Não morreu súbdito nem vencido. Antes de principiar a agonia, que foi curta, pôs a coroa na cabeça, — uma coroa que não era, ao menos, um chapéu velho ou uma bacia, onde os espectadores palpassem a ilusão. Não, senhor; ele pegou em nada, levantou nada e cingiu nada; só ele via a insígnia imperial, pesada de ouro, rútila de brilhantes e outras pedras preciosas. O esforço que fizera para erguer meio corpo não durou muito; o corpo caiu outra vez; o rosto conservou porventura uma expressão gloriosa.

— Guardem a minha coroa, murmurou. Ao vencedor…

A cara ficou séria porque a morte é séria; dois minutos de agonia, um trejeito horrível, e estava assinada a abdicação.

Além da morte de Rubião, o cachorro Quincas Borba também morre:

Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá titulo ao livro, e por que antes um que outro, — questão prenhe de questões, que nos levariam longe… Eia! chora os dois recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, ri-te! É a mesma cousa. O Cruzeiro que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.

Com este dois trechos, podemos ver pura e simplesmente a ironia de Machado de Assis, uma das características mais presentes em seus romances.

POSSÍVEIS QUESTÕES PARA O VESTIBULAR

Ao pesquisar sobre como o romance Quincas Borba poderia ser cobrado no vestibular, percebi que a maior parte das questões foca na interpretação do lema principal do romance “ao vencedor, as batatas”.

Ademais, acho importante o estudo do quadro comparativo sobre as características do realismo e naturalismo, bem como sobre as teorias evolucionistas, também citadas na resenha.

IMPRESSÃO GERAL DO LIVRO

Eu sou suspeita para falar de Machado de Assis e sobre a escola literária do Realismo. 

Desde o ensino médio, o realismo foi o período da literatura que mais me chamou a atenção, bem como a leitura era muito agradável. Logo, Machado de Assis e Eça de Queiroz ocupavam o lugar de autores favoritos durante a minha vida escolar.

Quando eu estava me preparando para o Vestibular, no ano de 2005, um dos livros obrigatórios da Fuvest era Memórias Póstumas de Brás Cubas. Lembro que eu adorei o livro, bem como o filme sobre a obra (indico fortemente os dois!!!).

Hoje, com mais maturidade, o meu encantamento pela escrita de Machado aumentou, pois eu adoro narrativas que são fluídas e irônicas, e, no quesito de ironia, Quincas Borba não deve em nada, tendo em vista que o próprio narrador tem que explicar a tosquice de Rubião ao leitor em alguns momentos.

Ademais, a ironia com um fundo de verdade na Teoria Humanística pode ser aplicada no contexto da nossa atualidade, o que demonstra o motivo pelo qual as obras desse autor maravilhoso são sempre cobradas em provas.

Por fim, mesmo que você não esteja se preparando para o vestibular, eu recomendo da leitura desta clássico nacional!!

Já leu este livro ou outras obras de Machado de Assis? Se positivo, compartilha nos comentários a sua experiência de leitura!!

Um beijo e até o próximo post!!

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