FUVEST: Resumo e análise da obra Angústia, de Graciliano Ramos

Capa do livro publicado pela Editora Record em 2019

Antes de começar a análise da obra, eu te convido a conhecer e apoiar o conteúdo criado para o blog, em especial para o Projeto Fuvest, através da minha campanha no APOIA.SE.

Terceiro livro analisado para o projeto de Literatura da FUVEST, Angústia é uma obra da escola literária do Modernismo, escola esta bem cobrada e explorada pela banca, assim como o realismo.

SOBRE O AUTOR

Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em 27 de outubro de 1892 no Estado de Alagoas. Seus pais eram comerciantes e devido a situação financeira da família, pode ser dedicar aos estudos, principalmente pela língua portuguesa.

Devido ao seu interesse pela leitura e escrita,  o autor chegou a publicar seu primeiro conto aos onze anos de idade. Durante a sua adolescência,  produziu textos para periódicos brasileiros, fez parte do Exército, ajudou seus pais na loja da família e deu aulas de português.

Graciliano Ramos se envolveu com política e acabou se tornando o prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, em 1927. Todavia, renunciou ao cargo dois anos após sua posse, tendo em vista que achava a política muito conturbada e burocrática.

Contudo, o escritor não deixou totalmente a política de lado, pois até a sua morte em 1953, ele atuou em diversos outros cargos públicos, principalmente ligados à educação.

Depois de passar onze meses encarcerado, Graciliano Ramos foi liberado em 1937.

Por fim, Graciliano Ramos morreu em Março de 1953, tendo sido casado duas vezes e pai de oito filhos.

SOBRE A OBRA

A obra foi publicada em 1936, durante o segundo tempo do modernismo (1930 – 1945). Para entendermos o contexto histórico e cultural, bem como o enredo da obra, nós precisamos saber que tal período, possui as seguintes características:

 – Prosa ficcional regionalista: é o uso da literatura como instrumento de denúncia social com grande engajamento político.

 – Traços do neorrealismo e neonaturalismo: é a capacidade descritiva de fato da realidade brasileira sem idealizações, sem romantização. 

A obra é um romance psicológico que trabalha com o fluxo de consciência através de uma narrativa não linear, causando dificuldade na compreensão da leitura.

O tempo da narrativa é dividido em:

Infância: composta por memórias da sua moradia e da sua família. Ressalto aqui, a cena em que seu pai acaba de falecer e Luís da Silva não chora pela morte dele, mas por não saber o que fazer da sua vida daqui para frente.

Vida adulta: composta por conflitos centrais ligados a obsessão, compulsão e econômica do nosso protagonista.

Tempo da narração em processo: na qual o protagonista decide escrever a história fazendo digressões ao passado.

Trata-se de um romance circular, isto é, para entender o final da história, se faz necessário voltar ao início da narrativa, a fim de entender o que de fato aconteceu.

CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL

Na época em que Graciliano Ramos começou a escrever, o país sofria mudanças, nos campos artístico, político e econômico. O movimento literário conhecido como Modernismo se consolidava, reforçando a formação de uma identidade artística nacional.

O Modernismo foi fundado por grandes nomes da arte brasileira, como Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, durante a Semana de Arte Moderna de 1922, realizada no Theatro Municipal de São Paulo (Marco Inicial do Modernismo).

Inicialmente, o movimento focou na ruptura da arte do Brasil com as influências do exterior, através da criação de uma identidade brasileira de forma quase patriótica e revolucionária. O primeiro tempo do Modernismo é de 1922 até 1930.

Quando Graciliano Ramos começou a publicar suas obras, os ideais do movimento do segundo tempo do modernismo, qual seja, de 1930 a 1945 destacam temas, como o regionalismo, a mistura de diversos tipos de arte e a construção de algo totalmente nacional. 

Neste período também, ocorreu a Revolução de 1930, na qual colocou o país sob o comando de Getúlio Vargas, responsável pelas reformas trabalhistas e econômicas para modernização do país. 

Contudo, em  novembro de 1937, através de um golpe de Estado, foi instituído o Estado Novo. Tal período é caracterizado pela centralização do poder através da figura de Getúlio Vargas, pelo anticomunismo e autoritarismo. A Terceira República Brasileira permaneceu até Janeiro de 1946. 

Diante deste novo contexto político e social, as obras e as amizades de Graciliano Ramos não eram bem vistas, tendo em vista que o partidarismo velado (comunismo) do autor é perceptível apenas para quem realmente presta atenção em seus escritos.

ESTILO NARRATIVO

A narrativa é em primeira pessoa, no qual será mostrado ao leitor a vida cheia de angústia que o nosso protagonista Luís da Silva vive. A angústia pode ser verificada no trecho abaixo citado:

Vivo agitado, cheio de tremores, uma tremura nas mãos que emagreceram. As mãos já não são minhas: são mãos de velho, fracas e inúteis. As escoriações das palmas cicatrizaram. 

Como podemos perceber, a obra Angústia, é uma narrativa lenta, pesada e fragmentada. Essa angústia também é gerada no leitor que acompanha a saga do protagonista.

Ademais, ao analisarmos esta obra, nós percebemos uma forte ligação com o realismo machadiano, razão pela qual nós temos traços do neorrealismo nas obras de Graciliano Ramos. Um exemplo desta semelhança é a obra Dom Casmurro, através do narrador angustiado em primeira pessoa fazendo seus relatos assim como Luís da Silva.

ENREDO

A vida de Luís da Silva não foi nada fácil. Apesar de vir de uma família de posses, ele perde a mãe muito cedo e foi criado pelo pai e por seus avós. Com o falecimento de destes, as dívidas e problemas da família recaem em Luís da Silva, um menino de catorze anos, que vê os credores da família levando tudo e se deparando em uma situação em que terá que buscar algum meio para sobreviver.

Logo, Luís da Silva será professor em uma escola próxima a sua região, mas chega um momento em que não dá mais para ficar naquele lugar, ocasião em que resolve sair do interior e morar em Maceió. Ao chegar na Capital, Luís da Silva acaba conseguindo um emprego no jornal ligado ao governo. 

Insta salientar, aos vestibulandos, que o nosso protagonista trabalhava como revisor de um jornal ligado a um órgão governamental. Logo, uma de suas funções era manipular partes dos textos escritos por jornalistas do local onde trabalhava, evitando fatos prejudiciais ao governo, lembrando que estamos em plena a Era Vargas.

Voltando ao enredo, Luis da Silva levava muito regrada em sua rotina, logo, o mesmo chegava do trabalho, conversava com a sua empregada Vitória, ia para o quintar ler um livro em sua rede.

Até que ele começa ver uma movimentação na casa ao lado, devido a mudança de uma nova família. E, nesta oportunidade, Luis da Silva conhece Marina.

Inicialmente, o diálogo entre os dois não era tão profundo, pois Marina era muito fútil e superficial. Todavia, ele acaba obcecado compulsivamente por ela.

A casa em que Luís vivia era conjugada, isto é, a parede da casa fazia divisão com a casa dele e a casa de Marina, logo, ele escutava o que acontecia lá, na verdade, nessa moradia todos eram muito próximos, como se o lugar fosse um microcosmo do mundo exterior. Nota-se que aqui, verificamos a característica do neonaturalismo, se assemelhando muito com a obra O Cortiço, de Aluísio de Azevedo 

Como Luís está empenhado em ter algo mais com Marina, ela a propõe em casamento. Diante deste novo contexto, Luis dá o dinheiro de suas economias para Marina. a fim de que a mesma providencie o enxoval, a alertando para comprar o que era realmente necessário. 

Contudo, Marina não o obedece e acaba gastando todo o dinheiro com coisas supérfluas, como camisas e meias de seda. Apesar da desobediência de Marina, Luís continua empenhado em se casar e aceita os gastos por ela cometidos.

A questão é que logo depois vem a grande decepção, pois Luís descobre que Marina está tendo um caso com Julião Tavares, colega de trabalho,e termina o noivado com ela.

Após um tempo, Luís descobre que Marina está grávida de Julião e que este a abandonou, pois, o mesmo já estava preparando o golpe para deflorar outra moça.

Revoltado e obcecado, nós temos em Luís da Silva a figura da justiça e da vingança. Logo, Luis pega uma corda e de tocaia acaba enforcando Julião e simulando o seu enforcamento, o amarrando em uma árvore.

Este é o momento de loucura de Luís da Silva, no qual ele tenta defender a honra da mulher em que um dia ele pensou em se casar. Segue-se então 30 dias de delírio e sofrimento, portanto a necessidade de se fazer o seu relato (esta cena é do início do livro…lembre-se é um romance circular).

POSSÍVEIS QUESTÕES PARA O VESTIBULAR

Ao pesquisar sobre como a obra poderia ser cobrada no vestibular, percebi que foram poucas as questões que cobraram o enredo da obra em si, tendo em vista, que a cobrança possui um foco multidisciplinar, ou seja, mesclando história, especialmente sobre a Era Vargas com a segunda fase do Modernismo.

Ademais, o foco das questões era com base na característica da transcendência, já que o Nordeste, serviu de pano de fundo para a maioria das criações do segundo tempo do Modernismo.

Os textos produzidos neste período denunciavam os traços de uma região em decomposição, acometida pela miséria, seca, descaso dos políticos, bem como pelo abandono dos que lá viviam, o que fez com que os retirantes se deslocassem para o eixo Sul-Sudeste do país.

IMPRESSÃO GERAL DO LIVRO

Confesso que a minha versão adolescente não teria gostado deste livro, pois como dito anteriormente, a narrativa é lenta, confusa, o que dificulta a compreensão da obra e contribui para afastar qualquer jovem da literatura nacional.

Mas hoje, eu posso afirmar que achei a obra muito bem escrita, com um protagonista denso e capaz de nos transmitir a angústia que ele sentia, não só com o crime cometido, mas principalmente, com a sua forma de viver. 

Aqui faço um adendo a minha experiência de leitura com uma obra muito parecida e do período do realismo, qual seja, Crime e Castigo de Dostoiévski, no qual o protagonista nos transmitia os seus sentimentos de forma tão verdadeira que conseguimos nos sentir cúmplices de seu crime e de suas mazelas.

Ao concluir a leitura e compará-la com a obra russa acima citada, ouso dizer que em alguns momentos eu achei a obra de Graciliano Ramos mais intensa na narrativa do que aquela, especialmente ao relatar a loucura e a obsessão de Luís da Silva com Marina e Julião Tavares.

Ademais, por ser uma narrativa em primeira pessoa, tinha momentos, principalmente, no auge dos sentimentos de Luís da Silva que era difícil estar na cabeça dele e saber os seus pensamentos mais sombrios e conturbados.

Por fim, apesar da densidade dos temas abordados e da forma não linear da narrativa, eu aconselho muito a leitura desta obra, independente de você ser ou não vestibulando. 

Já leu este livro? Se sim, compartilha comigo nos comentários o que você achou!!

Um beijo e até o próximo post!!

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