FUVEST: Resumo e análise da obra Poemas escolhidos, de Gregório de Matos

Mais um livro lido para o Projeto Fuvest e cobrado nos vestibulares de 2020, 2021 e 2022.

Antes de começar a análise da obra, eu te convido a conhecer e apoiar o conteúdo criado para o blog, em especial para o Projeto Fuvest, através da minha campanha no APOIA.SE.

SOBRE O AUTOR

Gregório de Matos e Guerra, nasceu em 20 de dezembro de 1633 ou 1636, foi o terceiro filho de um fidalgo, estabelecido no recôncavo baiano.

Formou-se em direito em Coimbra. Em Lisboa foi juiz, mas retornou ao Brasil em 1681, a convite do arcebispo da Bahia, para exercer os cargos de vigário-geral e tesoureiro-mor.

Gregório foi desligado de suas funções por ordem do arcebispo Frei João da Madre de Deus por insubordinação e sua crítica ferrenha através de seus escritos, ocasião em que criou muitas inimizades em seu meio, fazendo-o receber a alcunha de Boca do Inferno.

Em 1694 foi deportado a Angola, podendo retornar ao Brasil sob as seguintes condições: desde que não à Bahia, mas a Pernambuco, e cessando a crítica satírica (o que não era muito fácil para ele, pois viveu, até a sua morte supostamente em 1696, sempre a ponto de ser punido).

CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL

O Barroco no Brasil ocorreu em 1601 a 1768, período este conhecido como Contrarreforma e da criação da Companhia de Jesus. Foi através deste movimento que tentou-se impedir a reforma protestante (criada por Martinho Lutero) e a manutenção ou até mesmo a imposição da fé católica.

Tal escola literária, conta com uma literatura genuinamente brasileira, tendo em vista que o Quinhentismo era uma literatura de informação (crônicas de viagem) e de catequese produzida por estrangeiros.

Durante o período da produção da obra de Gregório de Matos, nós estávamos diante de um reino português em decadência, devido ao fracasso do comércio oriental, a insustentabilidade da economia portuguesa com o tráfico de escravos da África e nativos indígenas, e a intensificação das restrições comerciais do Brasil, sugando assim tudo o que podia da colônia, impedindo o seu próprio desenvolvimento.

O açúcar, principal fonte de produção brasileira na época, enfrentava uma forte concorrência com as colônias espanholas e inglesas na América Central.

A essas transformações socioeconômicas correspondiam mudanças no quadro político, caracterizando as formas de domínio e controle da metrópole sobre a colônia: as Câmaras, representativas do poder local, iam sendo debilitadas à medida que se fortalecia o poder dos governadores e demais funcionários reais representantes do poder metropolitano.

A poesia de Gregório de Matos satirizará estas tensões políticas e econômicas de sua época. Lembrando que nesta época, Salvador era a capital do Brasil e juntamente com Recife eram os maiores polos comerciais de cana de açúcar.

Gregório enraíza na cidade da Bahia a figuração tradicional do desconcerto do mundo, que lhe parece invertido.

Para entender os poemas de Gregório de Matos, temos que ter em mente suas influências (Luís de Camões e Francesco Petrarca), bem como as características desta escola literária, quais sejam:

CARACTERÍSTICADESCRIÇÃO
PersonificaçãoDar características humanas a seres que não são humanos, como é o caso da cidade da Bahia, por exemplo.
MetáforaJogo de comparação sem um elemento comparativo.
Antítese e paradoxoSão figuras de linguagem de oposição, através  de palavras e de ideias
AnadiploseUtilização da última palavra de um verso começando o verso seguinte. Como se fosse uma espiral.
Relação dicotômicaCorpo x alma, sagrado x profano, céu x inferno
Rebuscamento e hipérboleOrnamentação excessiva de linguagem
Renascentismo x Ética CristãAntropocentrismo x Teocentrismo
Cultismo/GongorismoJogo de palavras (sinônimos, antônimos, homônimos, trocadilhos, figuras de linguagem, hipérbatos)
Conceptismo/QuevedismoJogo de ideias (comparações e argumentação engenhosa)
Temática religiosaSentimento de culpa e arrependimento
Emprego de medidas poéticasVersos decassílabos (dedique um tempo do estudo para o aprendizado da contagem das sílabas poéticas).

SOBRE A EDIÇÃO

Esta edição, publicada pela Companhia das Letras em 2011, é voltada aos vestibulandos. Foi utilizada a comparação com as edições de Afrânio Peixoto e James Amado, recorrendo, quando fosse o caso, a algumas antologias que contêm lições ou notas de Sérgio Buarque de Holanda e de Segismundo Spina e da edição da Academia.

ESTILO NARRATIVO

Já se definiu a sátira como “a luta cômica de duas sociedades, uma normal e outra absurda”, ou seja, o poeta com sua escrita galante, parece tão absurdo diante da realidade da Bahia quanto a realidade da Bahia é absurda aos olhos do mesmo.

A lírica-amorosa de Gregório de Matos, por sua vez, traz como temática os choques entre ascetismo (filosofia religiosa) e sensualismo, espírito e matéria, fazendo os contrários passarem por uma série de transformações e aproximações que os faz inseparáveis.

Nesse trabalho de confronto e fusão dos opostos, Gregório mostra-se hábil na espécie de ocultar a realidade dos contrários. Segundo Gérard Genette (crítico literário francês), a poesia barroca tende a transformar toda diferença em oposição, toda oposição em simetria, e a simetria em identidade. Nos limites desse trajeto, o diferente torna-se idêntico, o outro torna-se o mesmo.

Na poesia religiosa, por sua vez, a dualidade matéria x espírito projeta-se na dualidade culpa x perdão. Três espaços se encontram aqui: o da religião (o confessionário), o da lei (o julgamento) e o da poesia (o soneto). A poesia aparece como a única coisa salva o poeta, perante si mesmo, perante os outros e perante Deus.

POESIA DE CIRCUNSTÂNCIA

SATÍRICA E ENCOMIÁSTICA

A maioria dos poemas escritos eram críticas irônicas a cidade da Bahia, no qual se verifica que uma de suas mazelas é a falta de verdade de honra e de vergonha devido aos negócios praticados na época, derivado da ambição e usura de seus governantes e funcionários.

Entende-se os negócios da época o comércio escravo e o açúcar.

Entende-se por funcionários do governo: meirinhos, guardas e sargentos.

Entende-se por governantes: a Justiça (bastarda, vendida e injusta), o Clero (simonia, inveja e roubalheira), Câmara (não pode acudir, não quer o poder e não vence o Governo).

Além da crítica ao Governo, há um contraste da cidade da Bahia, no qual Gregório traça um paralelo do recôncavo que um dia ele conheceu como a terra abundante e de açúcar excelente a terra que hoje comercializa o seu melhor produto no estrangeiro, por produtos inúteis a sua população.

Ademais, o próprio autor critica a condescendência do povo baiano com a corrupção praticada e o desprezo aos mesmos com a exaltação do povo estrangeiro.

A sátira de Gregório, em alguns casos, tinha um destinatário certo e sabido, como é o caso do poema intitulado “Ao Padre Lourenço Ribeiro, homem pardo que foi vigário da Freguesia do Passé”. Neste escrito, nós encontramos uma resposta ao Padre Lourenço, que desdenhou através de trovas a pessoa do autor.

POESIA AMOROSA

LÍRICA

É uma poesia amorosa literalmente. São sonetos que abordarão temas como amores não vividos, amores desprezados e até platônicos. Nestes poemas, encontramos o contraste de ideias e palavras, mas não de forma irônica, como visto na poesia satírica e erótica.

ERÓTICO-IRÔNICA

São poemas de conteúdo sensual e com a utilização de expressões de baixo calão, no qual vemos o emprego do erotismo através de um jogo de palavras e de muita ironia. Como exemplo, eu cito o poema A uma freira, que satirizando a delgada fisionomia do poeta lhe chamou “Pica-Flor”, página 275.

POESIA RELIGIOSA OU SACRA

É a poesia, na qual vemos a existência da fé, da culpa e do arrependimento.  Foi nesta espécie que eu li um dos sonetos mais bonitos de livro, denominado “A Jesus Cristo Nosso Senhor”, página 313.

POSSÍVEIS QUESTÕES PARA O VESTIBULAR

Ao analisar as questões de diversos vestibulares, eu pude verificar que a cobrança se fundava nas características da escola literária através da análise do poema fornecido pela Banca.

Cumpre também destacar a cobrança da forma estrutural ou até técnica do poema, sendo esta o soneto. Lembrando que este é dividido em catorze linhas, sendo estas divididas em quatro estrofes compostas de dois quartetos e dois tercetos.

Nas duas primeiras estrofes é apresentado ao leitor uma tese, já no primeiro terceto será apresentado o desenvolvimento e no segundo terceto a resolução da tese/problema.

Ademais, este soneto apresenta características peculiares como é o caso de versos decassílabos, ou seja, cada linha tem dez sílabas poéticas (a sílaba poética não conta a última sílaba do verso).

Salienta-se também outra característica do poema que são as rimas interpoladas nos quartetos (A/B/B/A), as rimas intercaladas nos tercetos (C/D/E/C/D/E), bem como a contagem das sílabas poéticas (versos decassílabos).

Por fim, caso você não queira ler ou não tenha tempo para ler esta obra, fica a dica de estudo das características do barroco, bem como seu contexto histórico e cultural.

IMPRESSÃO GERAL DO LIVRO

Até o momento, este foi o maior desafio literário que eu tive este ano, pois:

  1. Faz tempo que eu concluí o ensino médio (ano de 2005);
  2. Não lembrava mais nada do período do Barroco Brasileiro, somente do Aleijadinho (bem pouco, por sinal);
  3. Não estou acostumada a ler poesia.

E como foi a leitura deste livro então?

Não foi nada fácil, a linguagem rebuscada, as palavras que não são mais utilizadas e até não tinham mais sinônimos, contribuíram para a leitura ser lenta e maçante em alguns momentos, tendo em vista que em alguns poemas eu tinha que fazer a releitura por não ter entendido nada.

As poesias que eu mais gostei foram as satíricas, pois eu adoro uma ironia e um humor negro. No que tange ao sarcasmo, alguns escritos tinham o nome da pessoa interessada, razão pela qual o autor fazia jus ao seu apelido de Boca do Inferno e também fez com que ele fosse expulso da Bahia e para lá não pudesse mais voltar.

Também gostei bastante da poesia religiosa, porque era cristalino o arrependimento do poeta em seu escrito (eu-lírico).

Por fim, recomendo a leitura deste, desde que você já tenha em mente as características do barroco e caso você queira sair da sua zona de conforto lendo um clássico da literatura nacional em forma de poesia.

Já leio este livro? Está se preparando para o vestibular?

Compartilha aqui comigo sua experiência de leitura!!

Um beijo e até o próximo post!!

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2 comentários em “FUVEST: Resumo e análise da obra Poemas escolhidos, de Gregório de Matos

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