FUVEST: Resumo e análise da obra O cortiço, de Aluísio Azevedo

O Cortiço | Editora Melhoramentos
Capa da edição publicada pela Editora Melhoramentos

SOBRE O AUTOR

Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís – Maranhão no ano de 1857, filho de portugueses sem posses, mas muito interessados em promover a cultura no Estado. Logo, a educação dada pela mãe ao autor, o incentivou a escrita, bem como a leitura.

Desde de jovem, Aluísio Azevedo já produzia seus escritos e corria atrás da publicação dos mesmos, a fim de mostrar aos leitores as mazelas do Brasil de sua época. Ao estabelecer morada no Rio de Janeiro em 1876, o autor conseguiu viver de seus escritos e da literatura.

O autor inaugura o movimento naturalista no Brasil com a publicação de “O Mulato” em 1881, tido como o primeiro romance naturalista e em 1890, o Aluísio publicou a sua obra mais conhecida, O Cortiço.

Em 1895 ingressou na diplomacia, momento em que praticamente cessa sua atividade literária. Em 1910, foi nomeado cônsul de primeira classe, no qual Buenos Aires foi seu último posto. 

Faleceu aos 56 anos e seis anos após a sua morte, a urna funerária de Aluísio Azevedo chegou a São Luís, onde o escritor foi sepultado.

CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL

Para entender o romance escrito por Aluísio Azevedo é preciso não perder de vista a proposta estética do naturalismo.

Para esta escola literária, a estética não pode existir sem a fisiologia, pois segundo os naturalistas, a literatura precisa repetir, expor o que a fisiologia faz na medicina, qual seja explicar a lei que rege a vida dos organismos (desde a biologia do corpo humano até os sentimentos).

Logo, o naturalismo é uma tentativa de mostrar que os seres humanos como dependentes da fisiologia, dos caracteres hereditários, dos meios sociais, bem como da natureza, pendendo para o lado científico e levando em conta somente aspectos patológicos da vida do ser humano.

O naturalismo é uma literatura que procura mostrar como o homem é capaz de reagir ao meio de acordo com a natureza.

Diferentemente do realismo, esta escola está mais voltada para questões fisiológicas e orgânicas do homem.

SOBRE A OBRA E O ESTILO NARRATIVO

A obra é narrada em terceira pessoa (narrador onisciente e onipresente) e se passa no Rio de Janeiro, especificamente, no bairro de Botafogo.

Como o naturalismo é um movimento voltado mais para a razão e cientificismo, isto é, faz uma análise do homem e suas patologias, o narrador vê e nos mostra a degradação e promiscuidade, sendo tais características inevitáveis de todas as classes sociais. 

Ademais, as narrativas deste movimento privilegiam os ambientes coletivos, como os cortiços, pensões, hospedarias. É nesse ambiente que o autor faz a análise de suas personagens.

No que tange a sexualidade no naturalismo, a mulher é vista como dominante, no sentido fisiológico, em relação ao homem, como é o caso das personagens Rita Baiana e o português recém-chegado ao Brasil, Jerônimo. Nota-se, que desde de aquela época, há a visão da sensualidade do povo brasileiro pelo olhar do estrangeiro.

ENREDO

Ao pensar no enredo da obra, é importante o leitor visualizar que de um lado há os moradores do sobrado e do outro, os moradores do cortiço. Vale lembrar que há momentos em que teremos conflitos entres os moradores do sobrado e moradores do cortiço, principalmente com as personagens João Romão e Miranda.

João Romão era um português que trabalhou dos 13 as 25 anos em uma mercearia no bairro de Botafogo. Aos 25 anos, seu patrão (um velho português), decide voltar para Portugal e ele como forma de receber suas dívidas trabalhistas, passa a ser o novo proprietário desta mercearia. A personagem é ambicioso e no início da leitura seu maior sonho é ser rico. Logo, para isso ele irá economizar, inclusive dormindo no próprio balcão do seu estabelecimento.

Conforme a narrativa vai avançando, você percebe que João Romão é um comerciante sem escrúpulos que quer enriquecer a qualquer custo, principalmente através da exploração do proletariado, seja por Bertoleza, bem como através dos moradores do próprio cortiço.

Na frente desta mercearia, nós temos uma quitandeira chamada Bertoleza, uma escrava de aluguel, ou seja, todo mês ela manda o valor específico para o seu patrão, a fim de pagar o aluguel de sua liberdade. Logo, tudo o que ela faz é para conquistar  a tão sonhada carta de alforria (o Brasil ainda era um país escravocrata nesta época). 

É uma mulher que trabalha muito e no início do livro narra que ela era amigada (casada) com alguém, que não sabemos o nome, mas este vem a falecer logo no início da narrativa (capítulo II) puxando uma carroça muito pesada e “morrendo estrompado como uma besta”, esta é a primeira cena de zoomorfização.

Para muitos críticos literários, o cortiço é a grande personagem da narrativa, tendo em vista que este passa por um processo de personificação. O cortiço nasce com a compra de um grande terreno feita por João Romão ao lado da mercearia. 

Com a morte do marido de Bertoleza e esta ficando amigada de João Romão, ela o ajuda a roubar os materiais de construção das obras ao redor do terreno para construir as primeiras casinhas do cortiço, tendo em vista que o mesmo a ajudou a conseguir a sua carta de alforria, todavia, mal sabia ela que tal documento era falso e que todo o seu dinheiro ficou com João Romão.

Ao lado deste cortiço, nós temos o sobrado de Miranda, um comerciante português casado com Estela e pai de Zulmira. Eles moravam no centro do Rio de Janeiro e decidem se mudar para o bairro de Botafogo. Oficialmente, a mudança se deu pois o clima do bairro iria fazer bem a Zulmira, mas a verdade era que Miranda queria afastar sua esposa de seus amantes.

Nota-se que, o sobrado do Miranda representa a burguesia e o cortiço representa o proletariado. É através do cortiço que João Romão ascende economicamente.

Sobre a zoomorfização, um dos momentos mais evidentes é no Capítulo XIII em que nós temos o despertar do cortiço:

“Daí a pouco, em volta das bicas era um zum-zum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.

Dentre as personagens de destaque na obra, nós temos o português Jerônimo e sua esposa, Piedade. Jerônimo é contratado por João Romão para trabalhar na pedreira no fundo do cortiço, como cavouqueiro (aquele que quebra a pedra). 

Logo na sequência, chega ao cortiço uma figura emblemática da narrativa, Rita Baiana, uma mulata bonita, sensual e envolvente que acaba fazendo com que Jerônimo fique louco por ela.

Devido a esta paixão, Jerônimo muda seu comportamento radicalmente, como por exemplo, antes ele tomava café, agora toma pinga; antes era trabalhador, agora ele é preguiçoso; antes era econômico, agora ele já gasta sem regras. Segundo o narrador, Jerônimo abrasileirou-se, o meio em que vive (cortiço) vai determinar o novo comportamento desta personagem.

Cumpre salientar que Rita Baiana tem um amante chamado Firmo, quando este percebe que Jerônimo e ela estão envolvidos, em uma roda de samba, Firmo acaba ferindo Jerônimo com uma navalha. Ao se recuperar do ferimento, Jerônimo volta com dois desejos: matar Firmo e se casar com Rita Baiana. Os dois desejos são alcançados e Jerônimo abandona Piedade para ficar com Rita.

Outra personagem que vale ressaltar é Pombinha, tida como a flor, a virgem, a menina mais pura do cortiço. Pombinha tem até um noivo, mas só poderá firmar o matrimônio pois ainda não apareceu a sua menarca. Pombinha também muda seu comportamento no decorrer da narrativa se envolvendo com a personagem Leoni e até fundando um prostíbulo no final do romance.

Ainda no que tange a João Romão, como informado, inicialmente o sonho do mesmo era ser rico e ao conseguir tal riqueza, o seu próximo desejo é conseguir o status social, casando-se com Zulmira, a filha do Miranda. 

A personagem Piedade, esposa de Jerônimo, após o abandono do marido, conhece a degradação social ao cair no alcoolismo e sendo expulsa do cortiço. Na sequência, temos Bertoleza, como João Romão quer se casar com Zulmira, ele precisa se livrar de sua amante, logo, o seu plano é reencontrar os antigos donos de Bertoleza e devolvê-la já que sua carta de alforria era falsa. 

Ao final da narrativa, Bertoleza que estava de cócoras limpando um peixe e ao perceber que o filho de seu antigo dono vem acompanhado da polícia não pensa duas vezes, com a mesma faca que ela limpa o peixe, ela a crava em seu ventre de um lado a outro. Nota-se que Bertoleza preferiu a morte do que voltar a ser escrava.

Vemos que não há amor entre as personagens do romance, somente aquela paixão desenfreada, que nasce quase sempre, de um desejo animalesco ou carnal. E, estes sentimentos sempre marcados pela doença, pelo desvio e pela degradação são sempre mais fortes que a capacidade do homem ser racional.

POSSÍVEIS QUESTÕES PARA O VESTIBULAR

As questões cobradas nos vestibulares sobre esta obra tiveram seu maior enfoque no naturalismo, ao cobrar do estudante a análise do viés naturalista através de trechos da obra.

Não vi questões voltadas para o enredo em si. Logo, caso não tenha dado tempo para ler este livro, direcione seus estudos para as características do naturalismo.

MINHA EXPERIÊNCIA DE LEITURA

Apesar da escrita fluída do autor, não foi o livro que eu mais gostei até o momento, pois eu gosto de acreditar que o ser humano é muito mais que a sua fisiologia. Mas, eu entendo a importância da obra, bem como do autor, principalmente ao movimento naturalista no Brasil.

Já leu esta obra? Se positivo, compartilha comigo nos comentários o que você achou??

Um beijo e até o próximo post!!!

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Um comentário em “FUVEST: Resumo e análise da obra O cortiço, de Aluísio Azevedo

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