
SOBRE O AUTOR
João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo – MG, em 1908. Dono de uma educação excepcional, sendo formado em Medicina e tendo trabalhado como Diplomata, além de ser um grande conhecedor da língua portuguesa e de outros idiomas.
Sua paixão pelo aprendizado era tamanha que ele aprendeu o francês com a ajuda de um padre de sua cidade natal. Com a carreira de diplomata, Guimarães aprimorou o seu conhecimento em novas línguas, sendo que ao falecer em 1967, o autor falava fluentemente oito línguas e compreendia mais dezesseis.
Essa gana por aprender novos idiomas se manifesta em sua obra através da criação de novas palavras, denominado neologismo.
Há um fato curioso sobre a vida do autor, pois o mesmo foi escolhido, por unanimidade, a integrar a Academia Brasileira de Letras em 1963. Todavia, Guimarães Rosa, como era muito místico e religioso, não tomou posse como um “imortal”, posto que, ele teve uma premonição de que ao tomar posse, ele morreria.
A protelação durou quatro anos, mas ao ser muito pressionado, o autor em 1967 tomou posse como imortal da Academia e três dias após o evento, ele morreu de enfarto fulminante.
Nota-se que este aspecto místico e repleto de neologismos permeia toda a sua produção literária, podendo ser vislumbrado em Sagarana.
CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL
O autor faz parte da terceira fase do modernismo. Tal fase ainda traz temas discutidos anteriormente como questões existenciais e sociais, mas nesta fase há a potencialização destas questões através de um regionalismo universal e um olhar mais racional para o mundo em que vivemos.
Durante esta fase, o mundo passou pela Segunda Guerra Mundial, passará em seguida pelo Tribunal de Nuremberg, pela Revolução Cubana e, no Brasil, estamos no final da Era Vargas.
A terceira fase do modernismo é conhecida como a Geração de 45, esta é dividida pela poesia tradicional (neoparnasiano), representada pelo engenheiro da palavra João Cabral de Melo Neto, em sua obra-prima Morte e vida Severina e pela prosa experimental, no ponto de vista estético e da construção, como é o caso de Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
Esta prosa terá características como o intimismo e traços psicológicos, através do fluxo de consciência das personagens, com base nos seus medos e angústias. Além do neologismo (invenção linguística) mais ligada a obra de Guimarães Rosa.
SOBRE A OBRA E ESTILO NARRATIVO
A obra em tela foi publicada em 1946, na qual traz em seu bojo nove contos, narrados em primeira e terceira pessoa.
Insta salientar que, conforme dito anteriormente, a obra apresenta diversos neologismos, pois até o seu título possui tal característica, tendo em vista que saga (antiga língua escandinava): significa uma narrativa lendária, uma fábula e rana (advinda da língua tupi): representa aparência de; semelhante a.
Logo, a palavra sagarana seria histórias em forma de lendas. Devido ao neologismo, o autor tem o seu próprio dicionário, denominado “O léxico de Guimarães Rosa”.
No que tange ao estilo narrativo, a obra possui:
- regionalismo universal ou universalizante: é a narrativa ambientada em cenários e com personagens típicas do sertão mineiro (vaqueiros, jagunços, agricultores, latifundiários) de forma universal (o regionalismo é ultrapassado, ao tratar de temas que poderiam ocorrer em qualquer tipo de cenário (angústias, dualidade entre o bem e o mal, não somente no sertão) .
Aqui faço um adendo aos vestibulandos que se faz importante a noção de dois espaços, Vidas Secas (outra obra do autor) e Sagarana.
O sertão descrito na obra de Vidas Secas traz em seu bojo um regionalismo realista, tudo o que é narrado é específico daquele meio, o que acaba determinando o comportamento daquelas personagens (caráter mais científico).
Já em Sagarana, o regionalismo é universal, ou seja, aquele homem que está em Minas Gerais sente angústia, frustrações que ele poderia sentir em qualquer lugar, isto é, este meio não vai ser determinante para estes sentimentos como é em Vidas Secas.
- experimentalismo linguístico: é a linguagem original, inventada (neologismos) ou recriada pela mistura de línguas ou formas regionais.
- prosa poética: narrativas em prosa com ritmo, musicalidade (os contos possuem diversas cantigas no início de cada um, bem como decorrer de sua narrativa) e lirismo de poesia.
ENREDO DE CADA CONTO
O burrinho pedrês
Aqui, nós temos como personagens, o Sete de ouros (o próprio burrinho protagonista), Major Saulo, Francolim, Silvino e Badu.
O conto tem como narrativa (em terceira pessoa) a história do burrinho velho, de propriedade do Major Saulo, já aposentado por todos e esperando a sua morte. Trata-se de uma metáfora da velhice.
Todavia, a sua aposentadoria é quebrada bem como a sua figura será lembrada para sempre (uma lenda), durante uma travessia de bois. Vários animais da fazenda do Major foram escolhidos para a tarefa, dentre eles o Sete-de-ouros que será montado por João Manico.
Durante o percurso, nós temos a figura de Raimundo, um contador de histórias que acaba animando o grupo de vaqueiros que participam da travessia. Esta jornada não foi nada fácil, pois houve chuva, tempestade e o aumento de volume do rio.
Ademais, a um outro conflito na narrativa entre dois vaqueiros Badu e Silvino. Eles tem uma rixa, pois Badu roubou a namorada de Silvino e o mesmo procura vingança, gerando uma atenção em cima dele pelos demais vaqueiros.
Se a ida foi difícil, a volta para a fazenda do Major foi pior, pois o rio estava com a sua correnteza muito forte, tornando a travessia perigosa. Os vaqueiros colocam Sete-de-ouros para ir na frente guiando os demais.
O burrinho com toda a sabedoria da idade, vai calculando os pontos mais seguros para a realização da travessia, carregando em seu lombo Badu desacordado devido a um bebedeira.
Francolim, um capataz do Major, segue atrás do burrinho e consegue junto com ele fazer a travessia. Mas os demais vaqueiros e animais são levados pelo rio e morrendo afogados.
Logo, o burrinho salva a vida de Badu e Francolim ao livrar os mesmos de um afogamento durante a travessia do rio.
A volta do marido pródigo
As personagens são Lalino Salãthiel, Maria Rita, Ramiro e Major Anacleto.
O conto nos apresenta a história humorística (narrativa em terceira pessoa) de Lalino Salãthiel, um malandro esperto, que trabalha na construção de uma rodovia que pretende ligar Belo Horizonte a São Paulo.
O caboclo mineiro não é muito de trabalho, pois sempre chega atrasado, mais conversa do que trabalha, mas com este seu jeito sempre dá o seu jeitinho de garantir o seu emprego.
Ao pedir dinheiro emprestado a Ramiro (um espanhol que trabalha com Lalino na construção e sempre foi interessado em Maria Rita), o mesmo o empresta, desde que Maria Rita fique e Lalino nunca mais volte.
Lalino concorda e vende a esposa Maria Rita (uma mulher muito bonita e de causar inveja) a Ramiro para viajar ao Rio de Janeiro, a fim de se divertir com as “mulheres de revista”.
Ao acabar com o dinheiro adquirido, o mesmo retorna a sua cidadezinha e começa a trabalhar de cabo eleitoral para o Major Anacleto. Ao se destacar nesta nova profissão, sempre com muita sagacidade e malandragem, Lalino faz de Major Anacleto vencedor na disputa política e este, como forma de agradecimento pelos serviços prestados, recupera a esposa Maria Rita para o seu colaborador e ainda expulsa os espanhóis da região.
Sarapalha
As personagens são primo Argemiro, primo Ribeiro e Luisa.
Conta a história dramática (narrativa em terceira pessoa) de Sarapalha, uma cidadezinha fantasma abandonada pelos moradores devido a um surto de malária. Aqui faço um adendo para questões de intertextualidade com biologia, devido a doença da malária.
Neste local, ainda vivem dois primos, Argemiro e Ribeiro, ambos contraíram malária, e lá ficam esperando a hora da morte com a assistência de uma velha negra e de um cachorro perdigueiro.
No decorrer de uma conversa entre os primos, nós ficamos sabendo que o Ribeiro era casado com Luísa, mas esta o abandonou por outro homem muitos anos atrás. Com o decorrer da história, nós vemos que o primo Argemiro, ao qual Ribeiro é muito grato pelo mesmo ter ficado lá e ser sua companhia, não ficou só por isso.
Na verdade, a sua permanência em Sarapalha é a mesma que de Primo Ribeiro, qual seja o sucídio lento e a espera do retorno de Luísa, que também era seu grande amor platônico.
Aqui nós podemos verificar que a natureza é integrada ao sofrimento das personagens, refletindo a sua tristeza, abandono e delírios. E que tais personagens, na verdade, por não terem mais nenhuma expectativa na vida, ficaram em Sarapalha para morrer (suicídio lento).
Duelo
As personagens são Turíbio Todo, Cassiano Gomes, Dona Silivana, Timpim Vinte Um.
Conta a história de vingança, estratégia e destino (narrativa em terceira pessoa), na qual Turíbio Todo, ao voltar de uma pescaria flagra sua esposa, Dona Silivana, o traindo com Cassiano Gomes. Devido a esta traição, Turíbio decide se vingar de Cassiano, todavia, o mesmo é covarde e seu rival é um militar que anda sempre armado.
Logo, a estratégia de Turíbio é fingir que não sabe de nada sobre a traição, reunir todas a suas armas e ficar de tocaia na casa de Cassiano Gomes a espera do ataque. Lá, Turíbio atira em um homem de costas, que ele pensa ser Cassiano, mas ao ver quem era ele atirou erroneamente no irmão de seu oponente.
Aqui, começa uma nova vingança, agora de Cassiano, o que dá origem ao nome do conto. Passado se meses neste clima de esconde-esconde e gato e rato. Cassiano, descobre que tem pouco tempo de vida, devido ao um problema cardíaco e resolve contratar um matador de aluguel para dar fim em Turíbio Todo.
Todavia, devido ao ataque cardíaco na cidadezinha de Mosquito, Cassiano fica acamado e não consegue encontrar o matador de aluguel a altura. Mas, durante a sua estadia nesta cidade, ele conhece Timpim Vinte Um, um homem simples e pobre que pede ajuda a Cassiano, por causa de seu filho doente. Cassiano, ao simpatizar com Timpim ajuda o seu menino e se torna compadre do mesmo.
Devido ao seu estado de saúde delicado, Cassiano vem a falecer, mas antes entrega todas as suas economias a Timpim para cuidar de seu filho. No decorrer destes acontecimentos, Turíbio Todo recebe uma carta de Dona Silivana informando que pode voltar para a cidade que seu maior oponente morreu.
Durante sua trajetória para a sua cidade natal, Turíbio encontra Timpim Vinte Um que vem em sua direção, há uma conversa entre os dois e já num lugar ermo da estrada, Timpim pergunta ao outro homem se ele é Turíbio Todo. Ao ter a resposta positiva a sua pergunta, ele mata Turíbio Todo devido a sua dívida de gratidão para com Cassiano Gomes.
A hora e a vez de Augusto Matraga
O melhor conto do livro, na minha humilde opinião, tendo já sido cobrado individualmente, devido a sua importância. As personagens são Augusto Esteves, Dionóra, Mãe Quitéria, Pai Serapião, Joãozinho Bem-Bem.
Traz a história de redenção, de pecado e perdão, da dualidade entre o bem e o mal (narrativa em terceira pessoa), na qual nos apresentará Augusto Esteves (de Matraga não tinha nada) um valentão aparentemente de posses (mas em decadência devido a vida desregrada que leva), violento que não respeita sua esposa Dionória, sua filha, seus empregados, inclusive seus capangas, e nem ninguém.
Sua vida vai do céu ao inferno e que tenta alcançar o paraíso novamente durante sua jornada de remissão de pecados. O início de sua derrocada se dá com a fuga de sua esposa e filha com outro homem que as trata bem e com respeito.
Em seguida vem o abandono de seus empregados, especialmente de seus capangas, pois devido a decadência financeira, Augusto não honrava com os seus compromissos, razão pela qual, seus empregados estavam insatisfeitos e debandaram para o lado de seus oponente político na cidade, Major Consilva.
Diante de tais fatos, Augusto Esteves promete vingança a esposa e seus capangas. Logo, antes de se vingar da esposa, ele vai a fazenda do Major Consilva para tirar satisfação com ele e reaver os seus capangas. Todavia, Augusto não contava com a surra enorme que seus capangas deram nele como vingança por todo seu desprezo.
O mesmo também foi marcado com ferro quente (igual marca de boi) e depois ele é levado a uma ribanceira para ser morto. Durante um momento de lucidez, Augusto tenta fugir e acaba caindo da ribanceira. Ao final do local da queda, moram um casal de idosos, Mãe Quitéria e Pai Serapião, que ao ver o corpo moribundo do homem começam a cuidar dele.
Com a recuperação, Augusto Esteves pede a ida de um padre até o casebre para se confessar de seus pecados. O padre, ao ouvir todo o relato fala para Augusto sobre a segunda chance que Deus está dando a ele e a possibilidade de fazer tudo diferente:
“Reze e trabalhe, fazendo de conta que a vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas sempre passa…Cada um tem sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.”
Após esta confissão Augusto Esteves promete a si mesmo de que irá para o céu, que a sua hora e sua vez há de chegar, nem que seja a porrete. Ele e o casal de idosos vão para outra região fazer a vida e Augusto se afasta de toda aquela vida mundana e passa a promover todo o tipo de bondade para com os outros para elevar a sua alma.
Durante este caminho de redenção, Augusto Esteves sofre ao saber da morte do seu único e fiel capanga que tentou vingar a sua morte e acabou sendo morto, que sua filha caiu na vida por causa de um caixeiro viajante. Todavia, a provação maior acontece ao passar ali na região um outro valentão e seu bando, chamado Joãozinho Bem-Bem.
Todos no vilarejo fogem do homem, menos Augusto que o convida para ficar em sua casa durante sua estada na cidade. Joãozinho se simpatiza com Augusto e vê que por trás de toda aquela bondade há também um homem valente e conhecedor de armas.
Ao ir embora, Joãozinho Bem-Bem oferece seus serviços a Augusto, bem como o convida a fazer parte do bando dele. Augusto chega a titubear, mas continua firme no propósito de salvar a sua alma.
Passado um breve período Augusto sente que sua hora e sua vez está chegando e deixa a cidadezinha para cair no mundo esperando um sinal. Durante esta trajetória, ele chega a um povoado que está aflito por causa de Joãozinho Bem-Bem e seu bando, devido a morte de um de seus capangas por um morador deste lugar.
Como vingança a vida de seu empregado, Joãozinho resolve matar a família do assassino, já que o mesmo conseguiu fugir. Augusto Esteves é recebido por Joãozinho e convidado a ficar junto de seu bando e mais uma vez é convidado a fazer parte do time.
Augusto passa novamente pela tentação de mudar o seu rumo, mas seus pensamentos são interrompidos quando o pai, um senhor idoso, do assassino do capanga pede piedade pela vida de seus filhos jurados de morte.
Ao não lograr êxito em sua clemência a Joãozinho Bem-Bem, o pai da família pede intercessão divina para que mande alguém para os ajudar. E neste momento, Augusto Esteves entende que sua hora e sua vez chegaram.
Augusto pede firmemente a Joãozinho que não mate a família do homem, caso contrário terá que passar por cima de seu cadáver. Joãozinho fica muito bravo com Augusto, bem como fica em alerta devido a ameaça.
E aqui, começa a luta, inicialmente com um tiroteio e a morte do bando e após uma luta de facas entre Joãozinho Bem-Bem e Augusto Esteves. Esta passagem do livro é muito impactante, pois ambos sabem que irão morrer, mas há um respeito entre eles, já que são no fundo iguais.
No fim, Joãozinho Bem-Bem vem a falecer, bem como Augusto Esteves, que morre aliviado, pois conseguiu alcançar a redenção tão almejada, tornando-se Augusto Matraga (que vem possivelmente de matraca, instrumento utilizado com muita rapidez por Augusto para atrair e matar os capangas do bando de Joãozinho Bem-Bem).
São Marcos
Conto narrado pela personagem José, logo a narrativa é em primeira pessoa, uma pessoa descrente e dono de um pensamento mais racional, científico que mora em Calango-Frito, uma cidadezinha mística e repleta de feiticeiros, dentre eles João Mangalô.
Apesar de toda a sua descrença, José conhece todas as ervas medicinais e rezas fortes, entre elas a oração de São Marcos. Durante o seu passeio pela floresta da cidade, José passa em frente da casa de João Mangalô, devido sua falta de fé em feitiçaria, José debocha, tira sarro e provoca João Mangalô (“Ô Mangalô: negro na festa, pau na testa…”). Ao dizer isso, José acaba sendo vítima de um feitiço que o deixa completamente cego.
Como a visão não volta, José vai ficando cada vez mais desesperado, momento em que começa a recitar em voz alta a oração poderosa de São Marcos. José consegue correr pela floresta e chegar a casa de João Mangalô retornando assim a sua visão e iniciando a sua crença e reza forte (o poder das palavras) e feitiçaria.
Corpo Fechado
Narrado em primeira pessoa pelo médico da cidade, sendo esta uma das personagens do conto, bem como Manuel Fulô, Targino e Toniquinho das Pedras.
A história se passa em uma cidadezinha comandada pelos valentões do local, dentre eles o Targino. Já o nosso protagonista Manuel Fulô tem dois grandes amores em sua vida, uma mula chamada Beija-Flor e a noiva chamada Das Dor.
Durante a conversa com o médico, Manuel Fulô conta que tem uma mágoa com o feiticeiro da região, chamado Toniquinho das Pedras. O mesmo tem uma sela mexicana que Manuel é doido para comprar a sua mula Beija-Flor, mas que Toniquinho não a vende de jeito nenhum, tendo em vista que ele quer comprar a mula de Manuel para poder usar a sua sela.
No decorrer da cena, entra no bar o valentão da cidade Targino, no qual comunica a Manuel Fulô e a todos os presentes que pretende se aproveitar por um dia de Das Dor e que se Manuel não se meter no assunto, ele (Targino) não fará nada contra ele.
Manuel Fulô não pode contar com a ajuda de ninguém, afinal quem vai se meter com o valentão da cidade não é mesmo?!?! Logo, no dia marcado, aparece Toniquinho das Pedras, que chama Manuel Fulô para uma conversa em particular.
Ao terminar o assunto, Manuel entrega a Toniquinho a sua mula como parte de um acordo feito entre o dois, qual seja, a mula por um feitiço capaz de fechar o corpo de Manuel contra Targino.
Manuel chama Targino para o desafio, na qual aquele está munido somente de uma faquinha e este de um revólver carregado. Dado início ao duelo, Manuel escapa de todos os tiros proferidos, esfaqueia e mata Targino, se tornando o novo valentão da cidade.
Conversa de bois
Conto também narrado em primeira pessoa, mas tal narrador (Manuel Timborna) não participa diretamente da narrativa. Aqui, o narrador em conversa com outra pessoa defende que os animais conseguem se comunicar e conta a história de uma tragédia envolvendo oito bois que moviam um carro de bois.
A história se passa no trajeto que está sendo feito do sítio do Agenor Soronho, dono do carro de bois até a cidade. Este carro de bois está levando para o destino final rapadura para vender, e o corpo do pai do menino Tiãozinho para ser enterrado.
No decorrer do caminho, os bois veem que o menino está “babando água pelos olhos” de tão triste. Logo, os bois começam a conversar sobre a situação do menino que está desolado pela morte do pai, bem como revoltado com o patrão Agenor Soronho que tinha um caso amoroso com a mãe de Tiãozinho, enquanto o marido desta estava muito doente.
Os bois também não gostam de seu dono, razão pela qual, eles começam a traçar um plano de vingança contra Agenor. Ao perceber que o seu dono está adormecido no banco em cima do carro, os bois pensam que se eles derem um solavanco o Agenor poderá vir a cair na frente do carro e eles (bois) o atropelarem.
O conto termina com o carro de bois levando dois cadáveres e a imagem de que tudo o que aconteceu com Agenor Soronho não passou de um acidente. Aqui nós vemos uma espécie de fusão dos desejos do menino, devido a humilhação sofrida em vida pelo pai e dos bois devido a maus-tratos praticados pelo seu dono em busca da vingança.
Minha gente
A narração deste conto também é em primeira pessoa, mas não sabemos o nome deste narrador. Na verdade, só tomamos conhecimento de que o mesmo é um jovem que passou anos longe do local da narrativa (uma fazenda no interior de Minas Gerais) que, ao retornar para este lugar para visitar o seu Tio Emílio e sua prima, seu primeiro amor na infância, chamada Maria Irma.
Ao chegar na fazenda do Tio e reencontrar a prima, o narrador tenta reviver este amor de infância, mas Maria Irma não corresponde a este sentimento. Na verdade, ela se esquiva do primo narrador e a todo o momento comenta com ele de uma amiga muito bonita chamada Armanda.
No decorrer da história ocorrem outras narrativas secundárias que exaltam as paisagens e tradições mineiras, mas o desfecho da história principal é o encontro entre o primo e Armanda, na qual ele se apaixona à primeira vista e vem a se casar com ela. Ao mesmo tempo, Maria Irma também se casa, mas com o ex-noivo da amiga, o moço Ramiro de Gouveia.
POSSÍVEIS QUESTÕES PARA O VESTIBULAR
As questões não cobrarão em si o enredo de cada conto, mas a ligação deles dentro da obra, razão pela qual se faz necessária a leitura do livro.
Saliento ainda que o neologismo, a narrativa dos contos se passar no sertão mineiro e a inovação ao contar as histórias (prosa experimental) também foram objeto de várias questões.
MINHA EXPERIÊNCIA DE LEITURA
Confesso que não foi um livro muito fácil de ser lido e compreendido de imediato. Inclusive, este foi o resumo e análise mais densa que eu fiz no decorrer do Projeto Fuvest, devido a extensão da obra (são nove contos) diferentes e interligados, nos quais você poderá apreciar a genialidade do autor.
Há contos que eu gostei mais do que outros, mas o meu favorito é A hora e a vez de Augusto Matraga, que eu indico fortemente a leitura pelo menos desta história.
E já fica como meta, na minha lista infindável de leituras, O grande sertão Veredas, tido como a obra prima do autor.
Já leu Sagarana?
Conhece alguém que está para prestar vestibular ou se preparando para este exame? Indica o conteúdo aqui no blog!!!
Um beijo e até o último post do Projeto Fuvest para este ano!!
Um comentário em “FUVEST: Resumo e análise da obra Sagarana, de Guimarães Rosa”