Resenha e análise de Hamlet, de William Shakespeare

Há algo de podre no reino da Dinamarca… é com esta célebre frase, que adentramos na história de Hamlet, escrita por William Shakespeare em 1601. Nesta época o autor contava com 36 anos de idade e treze anos de carreira. 

É a peça mais longa escrita pelo dramaturgo, com precisamente 3.880 linhas dispostas em 05 atos, o que dificulta a sua interpretação teatral na íntegra, mas não impede, nós leitores, de contemplarmos este grande clássico!

O início da peça se passa no turno da noite no Castelo de Elsinore, sendo esta a morada dos Reis da Dinamarca. O castelo está sendo protegido, pois em vida, o Rei Hamlet matou o Rei da Noruega, sendo este Fórtimbras. Logo, para vingar a morte do Rei, seu filho, que também se chama Fórtimbras, busca vingança através da invasão da Dinamarca. 

Feita a observação acima, voltamos ao início da peça. Os sentinelas tentam convencer Horácio, amigo do Príncipe Hamlet, que eles têm visto o fantasma do rei morto. De início, Horácio não acredita em uma palavra desse papo de fantasma. Mas, o rapaz mudou completamente de opinião, ao ver ele mesmo o fantasma do Rei Hamlet, de armadura e tudo, olhando para eles.

Depois do encontro acima narrado, Horácio informa a Hamlet sobre o ocorrido e com quem a aparição se parecia, fazendo com que o Príncipe fosse vê-lo com seus próprios olhos. À noite, o Fantasma apareceu novamente e quis falar com Hamlet em particular. O rapaz, impressionado com tal situação, seguiu o fantasma, o qual revelou que Cláudio (tio do Príncipe Hamlet e irmão do Rei Hamlet) o matou com um frasco de veneno despejado em seu ouvido durante uma sesta no jardim do castelo.

Diante deste falecimento precoce e da traição imperdoável, o Fantasma exige que Hamlet vingue sua morte. Logo, o Príncipe assume o compromisso de vingança e traça como plano fingir-se de louco para apurar os fatos relatados pelo fantasma e pensar (que é o que Hamlet mais faz), na estratégia de vingança.

Todavia, ao fazer-se de louco, as pessoas ao seu redor começaram a estranhar o seu comportamento, muitos achavam que era pelo luto profundo pela morte do pai, outros pelo casamento express de seu Tio Cláudio com sua mãe Gertrudes (a rainha viúva do Rei Hamlet que se casou com o cunhado) e até mesmo que Hamlet sofria de amor por Ofélia.

Sobre Ofélia, a qual Hamlet amava, era filha de Polônio, conselheiro-chefe de Cláudio e irmã de Laertes, o qual está partindo para a França, a fim de retornar aos estudos na Universidade de Paris. 

Nem seu pai e nem seu irmão acreditam que Hamlet nutra sentimentos pela moça, fazendo o alerta a Ofélia para esquecê-lo o quanto antes. Aqui trago um trecho da peça que narra o conselho de Laertes: 

“Quanto a Hamlet, e às suas gentilezas, deves tomá-las por brinquedo ou farsa; Uma flor da primeira juventude, ardente, não fiel; doce e não firme, o perfume e a brandura de um minuto, não mais.” 

Inicialmente, Ofélia não estava disposta a esquecer Hamlet, pois ela sabia de seus sentimentos por ele e que a recíproca era verdadeira. Mas a moça ficou preocupada com o comportamento atual do Príncipe, o qual insiste com a amada para que ingresse em um convento, pois ele não nutre sentimentos por ela. 

É durante este encontro entre Hamlet e Ofélia que nós temos o mais famoso dos solilóquios da literatura:

Ser ou não ser, essa é que é a questão: Será mais nobre suportar na mente as flechadas da trágica fortuna, ou tomar armas contra um mar de escolhos e, enfrentando-os, vencer?

Morrer – dormir, nada mais; e dizer que pelo sono findam-se as dores, como os mil abalos inerentes à carne – é a conclusão que devemos buscar.

Morrer – dormir; dormir, talvez sonhar – eis o problema: Pois os sonhos que vierem nesse sono de morte, uma vez livres destes invólucro mortal, fazem cismar. Esse é o motivo que prolonga a desdita desta vida.

Quem suportara os golpes do destino, os erros do opressor, o escárnio alheio, a ingratidão no amor, a lei tardia, o orgulho dos que mandam, o desprezo que a paciência atura dos indignos, quando podia procurar repouso na ponta de um punhal?

Quem carregara suando o fardo da pesada vida se o medo do que vem depois da morte o país ignorado de onde nunca ninguém voltou – não nos turbasse a mente e nos fizesse arcar co’o mal que temos em vez de voar para esse, que ignoramos?

Assim nossa consciência se acovarda, e o instinto que inspira as decisões desmaia no indeciso pensamento, e as empresas supremas e oportunas. Desviam-se do fio da corrente e não são mais ação. Silêncio agora! A bela Ofélia! Ninfa, em tuas preces recorda os meus pecados.”

Ainda buscando indícios da autoria do crime contra seu pai, Hamlet pede à companhia de teatro itinerante que está na região para encenar uma peça, cuja narrativa seria a morte de um rei, no qual o falecimento foi causado por um parente próximo. A ideia de Hamlet era que, caso Cláudio ficasse indiferente à apresentação teatral, o fantasma estaria mentindo, mas se ele viesse a se incomodar com a representação, ele saberia que seu tio era culpado.

Quando o homicídio é encenado, Cláudio fica pistola e diz “Parem a peça!”, ato que Hamlet interpreta como prova de sua culpabilidade. 

Obviamente, Gertrudes não gostou nada da apresentação teatral, bem como não gostou nada de como seu marido, o rei, ficou abalado com a encenação. Logo, ela resolveu chamar Hamlet para uma conversinha particular, aquela de mãe para filho. 

Claro, que Gertrudes é orientada por Polônio sobre o rumo que tal conversa tem que tomar e o mesmo ficará no mesmo recinto que eles (atrás das cortinas), a fim de espiar o rumo do diálogo.

Durante seu deslocamento aos aposentos de sua mãe, Hamlet vê Cláudio rezando, distraído. Nesta cena, eu e o mundo achamos que seria a oportunidade perfeita para Hamlet concretizar a sua vingança e matar o seu tio. 

Contudo, o que Hamlet fez??? Ele pensou e muito, pois caso ele matasse Cláudio agora, no momento de seu diálogo com o Divino, seu tio iria diretamente para Paraíso, caso viesse a falecer. Diante disto, Hamlet não matou Claudio, tendo em vista que seu pai não teve a oportunidade de se confessar e ir para o céu (lembrando que o espírito está vagueando por aí, lutando para vingar a sua morte).

Em virtude deste pensamento, Hamlet seguiu seu percurso ao quarto de sua mãe. A conversa entre os dois não foi nada agradável, já que Hamlet jogou umas verdades na cara de Gertrudes, principalmente, com relação ao seu casamento apressado com seu Tio Claudio, o que ele considerava um incesto. 

Hamlet percebe um movimento atrás das cortinas e achando que seria Claudio de tocaia, pega a sua espada e dá um golpe acertando o seu suposto rival. Mas, quem acaba morto é Polônio. Nesta cena, o Fantasma do Rei Hamlet aparece para o príncipe e continua a pedir vingança por sua morte.

Claudio, o usurpador, vendo que Hamlet matou Polônio e temendo por sua própria cabeça,  manda o Príncipe à Inglaterra, acompanhado e vigiado por Rosencrantz e Guildenstern (amigos da onça, diga-se de passagem, de Hamlet), com o pretexto de acalmar os ânimos do jovem. 

Contudo, o Rei Cláudio tem um plano por trás de tal conduta, qual seja, ele manda uma carta, através de um portador, para que o Príncipe seja morto durante a viagem. 

Voltando à pobre Ofélia, depois da morte do pai, a moça endoidou de vez, cantando músicas sem nexo pela corte, não falando coisa com coisa, quando indagada. Seu irmão, Laertes, retorna da França em busca de vingança pela morte de seu pai e mais enfurecido ainda o rapaz fica ao ver o estado mental de sua irmã. 

O Rei Claudio vendo que Laertes quer a morte de alguém, informa o rapaz que Hamlet é o único responsável pelo falecimento de Polônio, pela loucura e posterior suicídio de sua irmã (ela se afogou no rio perto do Castelo). 

Na cena seguinte, nós descobrimos que Hamlet está vivo e de volta à Dinamarca. Mas como ele se livrou da encomenda de sua morte???? Bom, o barco em que Hamlet estava foi atacado por piratas a caminho da Inglaterra e a correspondência encaminhada pelo Rei Claúdio que ordenava o assassinato do príncipe foi por ele interceptada. Com o extravio da carta, Hamlet mandou matar Rosencrantz e Guildenstern em seu lugar.

Claudio, vendo que seu plano inicial para a morte de Hamlet não deu certo, continuou instigando Laertes a duelar com Hamlet para honrar a morte de seu pai e irmã. Logo, o rei usurpador entrega ao rapaz veneno para passar na lâmina de sua espada, que será usada no duelo contra o príncipe. 

Contudo, o Rei Cláudio conta com um “Plano B”, no qual, caso Hamlet não morra no duelo, lhe será servido um cálice de vinho com veneno, para enfim, garantir a morte do jovem.

Na cena seguinte, acompanhamos o diálogo entre dois coveiros, sobre se seria correto enterrar no solo sagrado uma pessoa que acabou de tirar a própria vida. Nesta ocasião, Hamlet e Horácio se aproximam de um dos coveiros e ao lado de uma sepultura que está sendo preparada, Hamlet encontra um crânio, o qual o príncipe segura em suas mãos e olha o objeto fascinado.

O coveiro informa que aquele crânio é de Yurick, um bobo da corte do Rei Hamlet, o qual o jovem Hamlet conheceu na sua infância. Quando o cortejo fúnebre aparece liderado por Laertes, o príncipe descobre que aquela sepultura, a qual está sendo preparada, é para Ofélia.

Hamlet tenta conversar com Laertes, mas é no cemitério mesmo e durante o funeral de Ofélia, que o duelo começa. O rei, já deixou tudo pronto para a execução do plano B, ou seja, deixou a taça envenenada para Hamlet. Claudio a oferece ao Príncipe que se recusou a tomá-la naquele momento. Todavia, o que Claudio não contava era que quem viria a tomar daquele cálice… fosse Gertrudes, a qual, toma a bebida e começa a passar mal. 

Hamlet é atingido por Laertes e revida a investida. No meio da briga, as espadas são trocadas. Com isso, Laertes é atingido também pela espada envenenada. A Rainha Gertrudes fala a todos os presentes que foi envenenada e que está morrendo. Laertes, vê que foi usado pelo Rei Cláudio e confessa a Hamlet que o rei é o culpado de toda aquela tragédia.

Diante da morte de sua mãe e de Laertes, Hamlet fere o rei com a espada envenenada e obriga Cláudio a beber a taça com veneno à força, causando a morte de seu tio. Assim, Hamlet, vingou a morte de seu pai. 

Antes de morrer, Hamlet e Laertes se perdoam. Ao ver Hamlet também morrendo, Horácio (o amigo fiel de Hamlet), também deseja se matar, mas o príncipe o impede e lhe pede para que viva e conte a sua história:

“Eu morro, Horácio! O violento veneno me domina o espírito. Eu não vivo até que cheguem notícias da Inglaterra. Mas auguro que a eleição será de Fortimbrás. Dou-lhe o meu voto, embora na agonia. Diz-lhe o que se passou e as ocorrências que me envolveram. O resto é silêncio.”

Por fim, após a morte geral, o exército de Fórtimbras chega a Elsinore, logo, ao lhe ser contada a história de Hamlet, o Príncipe norueguês convoca uma audiência com a nobreza presente e o mesmo assume o Reino da Dinamarca.

Anedotas da edição do box da editora Nova Fronteira e do livro Shakespeare – The Invention of the human 

A edição do box da Nova Fronteira, conta com algumas observações muito pertinentes sobre a peça feitas por Barbara Heliodora, uma das tradutoras das obras de Shakespeare mais importantes do Brasil. Também foi utilizado como leitura complementar o livro escrito pelo crítico literário Harold Bloom.

Para saber mais sobre as edições acima citadas, recomendo a leitura da minha resenha sobre Macbeth, pois nela há mais detalhes sobre tais livros.

Abaixo, as observações pertinentes das edições acima citadas:

Há um Hamlet anterior à obra de Shakespeare, mas nós não temos este trabalho, nem quem o compôs. Por não termos como comprovar a existência ou não desta obra, muitos acreditam que ela não se passa de uma suposição.

Na verdade, muitos estudiosos acreditam que a obra predecessora à Hamlet de Shakespeare tenha sido de autoria de Thomas Kyd, autor de “A Tragédia Espanhola”, nesta peça, a vingança é altamente representativa, pois a sanguinolência, a loucura, seja ela real ou fingida, bem como a vingança eram as mais populares formas dramáticas daquele período.

A diferença entre ambas as peças é a profundidade existente em Hamlet. Shakespeare ao esboçar a tragédia deu ao seu protagonista uma tarefa de vingança a executar e em torno dela criou toda uma avaliação da vida humana que chega às suas últimas consequências na famosa dúvida: “ser ou não ser”. 

Harold Bloom, assim como o estudioso Peter Alexander acreditam que o próprio Shakespeare tenha escrito Ur-Hamlet, não antes de 1589, quando o autor iniciava na dramaturgia. Todavia, a posição majoritária é de que a forma final da história de Hamlet seja de Shakespeare, mas não a sua ideia original, como veremos no próximo tópico.

Na crônica nórdica (Edda) e no conto francês de Belleforest, o Príncipe Amleth, desde de o início está correndo perigo por parte de seu tio assassino, logo, astuciosamente fingiu idiotice e loucura como forma de preservar a sua vida. Talvez em Hamlet, Shakespeare tenha seguido o paradigma anteriormente narrado, mas pouco resta dele na peça.

Nota-se que Shakespeare não teve qualquer preocupação com a originalidade de seu material. O importante em sua obra é o que resulta de alguma história mais do que conhecida anteriormente à qual seu tino imprimiu vida nova por sua capacidade de, mudando o ponto de vista, tirar do antigo material sentidos novos, dar-lhe maior alcance e intensidade ao conteúdo por meio de novas formas.

As tragédias anteriormente escritas pelo autor prenunciavam isso e as obras posteriores, embora ecoem, são muito diferentes de Hamlet, tanto em espírito quanto em tonalidade. Nenhuma outra personagem nas peças, como Falstaff (personagem presente na Henríada) ou Cleópatra correspondem às infinitas reverberações de Hamlet.

Há um questionamento bem interessante levantado pelo autor incitando o nosso raciocínio no sentido de que há a possibilidade de imaginarmos Hamlet (personagem) em outra peça de Shakespeare? Os grandes vilões como Iago de Otelo, Edmund de Rei Lear e Macbeth – seriam destruídos, segundo o autor, pela zombaria de Hamlet.

Nenhuma personagem das peças escritas posteriormente pelo Bardo poderiam estar no mesmo patamar de Hamlet, tendo em vista que outras personagens shakespearianas podem até sustentar o ceticismo, mas não a aliança entre o ceticismo e o carisma (durante a leitura da peça é nítido que o povo e a corte gostam de Hamlet, tanto o é, que Cláudio via o Príncipe como uma ameaça ao trono).

Hamlet sempre esteve na peça errada, mas ele já é a peça. A corte de Elsinore é uma ratoeira muito pequena para capturar o Príncipe dinamarquês, mas ele voluntariamente retorna para morrer e para matar.

Para Harold Bloom, Hamlet é Shakespeare ou o seu substituto, pois a personagem é o filho ideal para o dramaturgo. Tal opinião é compartilhada por James Joyce, o qual identificou Hamlet da Dinamarca com o único filho de Shakespeare – Hamnet –  que morreu aos onze anos em 1596, quatro ou cinco anos antes da versão final da tragédia de Hamlet.

Em meados de 1601, Shakespeare desempenhou o papel do fantasma do Rei Hamlet durante a encenação da peça.

Tudo na peça depende das atitudes de Hamlet para com a exigência de vingança do fantasma. A questão de Hamlet sempre será o próprio Hamlet, dono de uma consciência ambivalente e dividida, o que faz ser coerente com o que o drama pode sustentar.

Peter Alexander, em seu livro “Hamlet, father and son (1955)”, apontou que o fantasma e rei Hamlet era um formidável lutador e líder guerreiro, enquanto o príncipe Hamlet era um universitário intelectual, representante de uma nova era. Os dois Hamlets se confrontam, mesmo com nada em comum além dos nomes. O fantasma/Rei Hamlet espera que o jovem Hamlet seja uma versão de si mesmo, assim como Fórtimbras é uma cópia do velho Fórtimbras. Logo, podemos apontar a existência de duplos, somente com relação ao nome, na peça.

Hamlet é um jovem na casa dos 20 anos ou menos, estudante da Universidade de Wittenberg, a qual deseja retornar. Tal instituição também é frequentada pelo seu nobre amigo Horácio, bem como por Rosencrantz e Guildenstern. Laertes, da mesma geração que os demais, presumidamente também deseja voltar para a Universidade de Paris. Nota-se que é desta forma que vemos estas personagens durante os quatro primeiros atos. Porém, no ato V, estas mesmas personagens parecem mais velhas aos olhos do leitor, o que pode vir a representar a maturidade de cada um.

Em “The Birth of Tradegy” (1873), Nietzsche descreveu corretamente Hamlet, isto é, ele o viu não como um homem que pensa demais, mas sim como um homem que pensa sabiamente, como pode ser visto no seguinte trecho: conhecimento mata a ação; ação requer o véu da ilusão: Essa é a doutrina de Hamlet, não aquela sabedoria barata de Jack o sonhador (não encontrei referência sobre esta personagem), o qual reflete muito, sobre um excesso de possibilidade e não chega na ação. Não uma reflexão, não um conhecimento verdadeiro, um vislumbre dentro de uma verdade horrível, supera qualquer motivo para ação, ambos em Hamlet e no homem dionisíaco (conceito de Nietzsche que expressa a consciência fragmentada ou instabilidade existencial).

Um dos atrativos de Hamlet é que todos nós, como leitores, nos sentimos um pouco como Hamlet, já que a vida que recebemos ao nascer seria uma tarefa imposta do mesmo modo que a ele a da vingança imposta pelo pai. 

Ademais, podemos ressaltar a questão da liberdade, nos questionando se Hamlet era livre ou não. Acho, na minha humilde opinião, que ele não era livre, pois ao mesmo tempo que ele queria voltar para a Universidade, sua mãe pediu para ele ficar e, mesmo a contragosto, ele ficou. Hamlet, buscou a vingança por exigência do fantasma de seu pai, quando eu acho que ele não agiria de tal forma, como podemos ver pela sua ambivalência de pensamentos e ações. Enxergando a personagem desta forma, nós podemos trazer esta questão para a nossa vida, ou seja, nos questionando se nossa liberdade é ilimitada ou limitada como a de Hamlet.

Apesar do Harold Bloom não ter gostado nem um pouco da versão de Lawrence Olivier de Hamlet para o cinema, eu deixo a dica do filme, pois o mesmo é encontrado facilmente no Youtube, na íntegra e legendado.

Por fim, deixo aqui a citação do conselho, muito valioso diga-se de passagem de Polônio, ao seu jovem filho Laertes (Ato I, Cena III): “Guarda este poucos lemas na memória: Sê forte. Não dês língua a toda a ideia, nem forma ao pensamento descabido; Sê afável, mas sem vulgaridade. Os amigos que tens por verdadeiros, agarra-os a tu’alma em fios de aço; mas não procures distração camarada sem critério. Evita entrar em brigas; mas se entrares, aguenta firme, a fim que outros te temam. Presta a todos ouvido, mas a poucos a palavra: ouve a todos a censura, mas reserva o teu próprio julgamento. Veste de acordo com a tua bolsa, porém sê rico sem ostentação, pois o ornamento às vezes mostra o homem, que em França os de mais alta sociedade são seletos e justos nesse ponto. Não seja usurário nem pedinte: emprestando há o perigo de perderes o dinheiro e o amigo; e se o pedires, esquecerás as normas da poupança. Sobretudo sê fiel e verdadeiro contigo mesmo; e como a noite ao dia, seguir-se-á que a ninguém serás falso.”

Desejo a todos um ótimo Halloween e até o próximo post!!!

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Um comentário em “Resenha e análise de Hamlet, de William Shakespeare

  1. Hamlet não somente é um clássico, como também faz uma ponte entre filosofia, política, psiquiatria e literatura. O jovem príncipe Hamlet é um pensador consciente, além de estrategista político. Faz-nos lembrar de Maquiavel e suas teorias a respeito da conduta dos príncipes, aplicadas a um contexto nórdico. Há outro aspecto notável e menos observado em Hamlet: embora as mulheres (Ofélia e Gertrudes) desempenhem papéis tradicionalmente femininos, parece haver algo de peculiar no príncipe Hamlet que o torna “feminino”, de modo que as leitoras não apenas se sentem atraídas, mas também se identificam com o personagem. No teatro, é um papel que pode ser desempenhado por mulheres, como a famosa atriz Sarah Bernhardt, uma das melhores intérpretes do papel.

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