Décimo primeiro livro da lista do Projeto Reeducação do Imaginário, o qual conquistou de imediato meu coração com sua narrativa real e fiel aos pensamentos do nosso protagonista, e eu espero que venha conquistar um lugar também em seu coração, como vou mostrar a seguir.

SOBRE O AUTOR
Charles John Huffman Dickens nasceu em Portsmouth em sete de fevereiro de 1812, sendo o mais velho de oito filhos. O autor teve seus estudos interrompidos (1824), devido às dívidas contraídas por seu pai, o qual foi preso devido a estas pendências. Logo, o ainda menino, Charles teve que arranjar um emprego para ajudar nas despesas domésticas, sendo seu primeiro trabalho em uma fábrica de graxa para sapatos, colando rótulos nos vidros.
Dickens retomou seus estudos em 1825 – 1827 e neste ano, conseguiu um emprego em um escritório de advocacia (o que me lembrou muito do Sr. Jaggers e de seu empregado Wemmick, personagens da obra em tela).
Já em 1831, o autor inicia seu trabalho como repórter parlamentar e conhece seu primeiro amor, Maria Beadnell. O que aconteceu para os dois não ficarem juntos, eu não sei, mas em 1836, Dickens se casa com Catherine Hogarth, com a qual tem dez filhos. O episódio da separação de Charles de seu grande amor, Maria Beadnell, é visto por muitos estudiosos de sua obra, presente em algumas de suas narrativas, sendo ela em Grandes Esperanças, na figura de Pip e Estella, bem como em um Conto de Natal.
Em nove de junho de 1870, Charles Dickens vem a falecer, após um derrame, aos cinquenta e oito anos de idade. Seu corpo está enterrado na Abadia de Westminster, ao lado de outros grandes nomes da literatura inglesa.
SOBRE A OBRA E EDIÇÃO
Fiz a leitura de Grandes Esperanças através do livro publicado pela Penguim Companhia, considerado por muitos como uma das melhores traduções da obra para o português (feita por Paulo Henriques Britto, nesta edição)
Ademais, o livro conta com introdução e notas dos professores da University College London, David Trotter e Charlotte Mitchell, respectivamente. Ressalto que os textos de apoio ajudam e muito a compreender o contexto histórico e cultural, no qual a obra está inserida, bem como levantam questões pertinentes acerca da visão das personagens centrais do romance em tela.
Deixo como complemento a experiência literária de Grandes Esperanças, o vídeo da Univesp do Professor Daniel Puglia sobre a obra.
Por fim, ainda no Youtube, nós encontramos com facilidade a versão cinematográfica de Grandes Esperanças de 1946.
SOBRE O ENREDO
A obra é dividida em três volumes: sendo o primeiro sobre a infância, o segundo da juventude e o último sobre a fase adulta da vida de nosso protagonista e narrador Philip Pirrip, mais conhecido por Pip.
No primeiro volume, nós conhecemos a real condição de Pip, ou seja, a de um menino de origem humilde, órfão, e por isso vem a ser criado “com a mão” pela irmã, denominada somente como Sra. Joe e por seu cunhado (e grande amigo), o ferreiro Joe, cuja morada da família está localizada em uma região rural da Inglaterra, denominada no romance como charcos.
A realidade conhecida por Pip era de que o mesmo era considerado um estorvo para a irmã, sendo ele culpado pela vida que a Sra. Joe leva, bem como considerado um fracassado desde pequeno. Em contrapartida, o cunhado de Pip, o ferreiro Joe, pode ser visto como uma figura paterna para o menino.
Ainda sobre a realidade de Pip, esta rotina é virada de cabeça para baixo, quando em uma visita ao túmulo dos pais no cemitério local, o menino é abordado por um homem foragido. Pip assustado e temendo pela própria vida, tem que obedecer ao que o forçado pede, sendo uma lima para conseguir se livrar dos grilhões, aos quais está preso, bem como comida, tendo em vista que o homem estava sem comer a dias.
Pip, temendo por sua vida – parte II, consegue reunir tudo o que o homem pediu, inclusive o pastel assado pela irmã para o Natal e os entrega ao forçado, que no momento consegue reconhecer a bondade existente no menino e muda, um pouco, seu modo ser com Pip.
Conforme a narrativa do primeiro volume evolui, nós acompanhamos o aprendizado do menino a ler e escrever, onde conhecemos Biddy, uma jovem muito perspicaz que o ensina nesta tarefa e mais tarde se torna professora na região. Conhecemos também, os lugares deste vilarejo, como o Javali Azul e a figura do Sr. Pumblechook, o senhor, dono de uma mercearia que adora meter o bedelho na vida dos outros e principalmente na de Pip.
É através da figura do Sr. Pumblechook, que Pip vem a ser chamado para brincar na Casa Satis, um casarão (ou mausoléu), cuja propriedade pertence à Sra. Havisham, uma mulher um tanto excêntrica, que possui uma filha adotiva chamada Estella.
Nesta ocasião, Pip tem outro momento de conhecimento de sua própria realidade. Estella, o humilha já no primeiro dia de convívio, o diminuindo por causa de suas roupas e seu modo de ser. Enquanto, Pip com vergonha do que é, acaba aos poucos se apaixonando pela menina.
Sobre a Casa Satis, a propriedade que outrora deveria ter sido muito próspera, no momento da narrativa, nós somos apresentados a um local que parou no tempo e um momento muito específico do tempo, qual seja, o dia do quase casamento da Sra. Havisham.
A mulher foi largada no altar e desde então não tira seu vestido de noiva do corpo e mantém da mesma forma o salão, onde aconteceria a recepção de suas bodas, com o bolo de casamento podre e comido por ratos, bem como a decoração do ambiente e até mesmo os relógios do local marcam a mesma hora (08h40), como se o tempo naquele lugar não pudesse avançar.
Por ter sido maltratada pelo homem que ela amou, a Sra. Havisham, cria Estella para ser uma lady, cuja tarefa é aprender a se vingar e menosprezar os homens ao seu redor. Com a evolução da narrativa, nós vemos que Estella, aprendeu direitinho tais ensinamentos e no lugar do coração, havia um vazio irreparável.
Ao final do primeiro volume, nós tomamos conhecimento de que Pip, rebece uma herança robusta, a fim de que o mesmo venha a se tornar um cavalheiro em Londres. A notícia sobre tal renda é dada por um advogado, sendo este o Sr. Jaggers que será o responsável pela herança de Pip, até o menino completar vinte e um anos.
Todavia, em nenhum momento, a identidade de seu benfeitor ou benfeitora é divulgada ao jovem, o que o faz acreditar que esta pessoa venha a ser a Sra. Havisham, tendo como motivo a preparação do jovem em meio a sociedade londrina, para que ao se tornar um cavalheiro, venha desposar Estella
No segundo volume, Pip é um jovem que está aprendendo a se tornar um cavalheiro, todavia, ao se ver com uma quantia considerável de dinheiro, não consegue gastá-lo de forma sábia. Logo, nós acompanhamos os erros e equívocos do jovem para com a sua fortuna e seu egoísmo ao tentar a todo custo renegar o seu passado.
Aqui cito a passagem do ferreiro Joe em Londres, o qual gostaria de se encontrar com Pip e o jovem nos relata que seu pensamento era de que se houvesse uma quantia a ser dada a Joe, ele a daria, somente para não ter que vê-lo pessoalmente. Concluímos, assim que o dinheiro herdado não transformou Pip em um cavalheiro, mas sim, em um jovem egoísta, calculista e ingrato com quem tanto o amava.
Já no final deste volume, nós tomamos o conhecimento de quem vem a ser o benfeitor do jovem e como brilhantemente, o autor consegue quebrar a cara do nosso protagonista com tal revelação.
E aqui, eu paro com a minha narrativa, pois eu espero que você queira muito descobrir, com a leitura do terceiro volume, de quem vem a ser, de fato, o benfeitor de Pip, o que ele vem a fazer com tal informação, a ascensão e queda social do jovem em Londres, e a sua jornada não para se tornar um cavalheiro, mas sim, a dura jornada para se tornar um homem íntegro.
INDICAÇÃO DA OBRA AO PROJETO REEDUCAÇÃO DO IMAGINÁRIO
Até o momento, foi o melhor livro do projeto que eu li, pois a forma que o autor conseguiu mostrar, através da narrativa em primeira pessoa, o sentimento de resignação ao passado do protagonista, sua culpa, seu arrependimento e o caminho da redenção de forma tão real que Pip e as demais personagens ocuparão um lugar precioso na minha estante e no meu coração.
Espero que nós, como leitores, tenhamos sempre em mente que a vida não é composta de condição social e aquisição de bens, mas que ela compreende algo valioso, sendo estes, a amizade, a solidariedade, a humildade e a nossa busca por uma versão melhor de nós mesmos.
Espero muito que você dê uma chance ao autor e se surpreenda e se emocione com o desfecho das grandes esperanças de Pip!
Um beijo e até o próximo post!
Um comentário em “Resenha e análise da obra Grandes Esperanças, de Charles Dickens”