Resenha e análise da obra Fahrenheit 451, de Ray Bradbury

Mais um livro do Projeto Reeducação do Imaginário concluído com sucesso e o segundo livro da famosa trilogia distópica que eu leio!

Capa do livro publicado pela Editora Biblioteca Azul

SOBRE A EDIÇÃO

A edição pela qual eu fiz a minha leitura foi lançada em 2020 pela Editora Biblioteca Azul com tradução de Cid Knipel, com textos de apoio de Neil Gaiman, Jonathan R. Eller, Margaret Atwood e François Truffaut, bem como com uma galeria das capas do livro de várias partes do mundo.

Caso você queira um exemplar da obra para chamar de seu, eu aconselho a compra desta edição em tela, pois o trabalho desenvolvido pela Editora foi primoroso e vale a pena ter na estante.

SOBRE A OBRA E SOBRE O AUTOR 

Em meados de 1944, Ray Douglas Bradbury leu O zero e o infinito, de Arthur Koestler, sendo a leitura deste livro o ponto de partida de sua carreira, mas demoraria nove anos para que nós, leitores, soubessemos sobre a temperatura em que o papel pega fogo.

A obra em tela foi concebida a partir de cinco contos (A fogueira, Fênix Brilhante, Os Exilados, Usher II e O Pedestre ), escritos ao longo de dois a três anos. Foi através destes escritos que o autor investiu $9.50 para alugar uma máquina de escrever numa sala subterrânea de datilografia da UCLA. 

Em 1950, o livro ganhou forma em apenas nove dias, ganhando o nome inicialmente de O Bombeiro. Para ilustrar esta experiência de escrita, segue abaixo a citação do próprio  autor sobre a obra:

“Não escrevi Fahrenheit 451 – o livro me escreveu. Existia um ciclo de energia saindo da página, entrando pelos meus olhos, percorrendo o meu sistema nervoso e saindo pelas minhas mãos. A máquina de escrever e eu éramos gêmeos siameses, conectados pelas pontas dos dedos.”

Com a versão revisada, o agente literário do autor, Don Congdon começou a apresentar a novela para as editoras. As grandes editoras da época, não se interessaram pelo escrito, até que a revista recém-inaugurada Galaxy Science Fiction expressou seu interesse na obra e a revista Playboy publicou O Bombeiro nas edições dois, três e quatro. Somente em 1953, o autor fechou um contrato para a publicação da obra em formato de livro com a Editora Ballantine Books.

O livro teve como seu primeiro título conhecido por Fahrenheit 270, seguido de Fahrenheit 204 e Fahrenheit 205. No dia 22 de janeiro, depois de uma sequência infrutífera de ligações telefônicas de Bradbury para departamentos de física e química de várias Universidades, uma única ligação para o Corpo de Bombeiros de Los Angeles revelou que o ponto de combustão do papel acontece aos 451 graus Fahrenheit, sendo este o nome que prevaleceu para o livro.

A obra Fahrenheit 451 não se tornou campeã de vendas, mas as críticas foram bem favoráveis. Todavia, em 1960 a obra foi silenciosamente modificada, a fim de que o livro tivesse a aprovação de comitês escolares como leitura de sala de aula. Uma edição especial pelo selo Bal-Hi, impressa pela primeira vez em 1967, manteve a composição tipográfica da primeira edição, mas o texto foi alterado em quase cem pontos para remover profanidades e referências à sexualidade, bebidas, uso de drogas e nudez. 

Essa versão não foi feita com a intenção de substituir as edições de brochura vendidas nas livrarias, mas, no começo de 1973, o texto censurado foi transferido acidentalmente para impressões sucessivas do livro comercializado. Assim, alguns estudantes notaram a diferença entre o texto lido na escola e os exemplares mais antigos e comunicaram Ray Bradbury sobre o fato. Logo, desde 1979, uma nova composição tipográfica do texto foi restaurada e somente desta que o livro foi impresso.

Por fim, a obra foi adaptada para o cinema em 1966 por François Truffaut (há um texto de apoio do cineasta na edição em comento), versão encontrada com facilidade no Youtube. Em 2018, ganhou uma nova versão disponível pela HBO Max ( da qual eu não gostei tanto assim).

SOBRE O ENREDO

Na obra, acompanhamos nosso protagonista Guy Montag, um bombeiro que não combate incêndios, como estamos acostumados a ver em “nosso mundo”. Na verdade, ele incita o fogo através da queima dos livros tidos como proibidos pela sociedade, na qual ele se encontra inserido. É desta atividade de bombeiro, que advém o nome da obra, ou seja, Fahrenheit 451 é a temperatura da queima do papel (233°C).

Mas quais livros eles queimam? Todos eles, principalmente os clássicos que são citados durante a narrativa, principalmente entre as personagens Montag e o Capitão Beatty:

“Os negros não gostam de Little Black Sambo, Queime-o. Os brancos não se sentem bem em relação à Cabana do pai Tomás. Queime-o. Alguém escreveu um livro sobre o fumo e o câncer de pulmão? As pessoas que fumam lamentam? Queimemos o livro. Serenidade, Montag. Paz, Montag. Leve sua briga lá para fora. Melhor ainda para o incinerador. Os enterros são tristes e pagãos? Elimine-os também. Cinco minutos depois que uma pessoa morreu, ela está a caminho do Grande Crematório, os incineradores atendidos por helicópteros em todo o país. Dez minutos depois da morte, um homem é um grão de poeira negra. Não vamos ficar arengando os in memoriam para os indivíduos. Esqueça-os. Queime tudo, queime tudo. O fogo é luminoso e o fogo é limpo.”

Todavia, Montag tem seus pensamentos transformados ao conhecer sua vizinha Clarisse McClellan, uma adolescente totalmente diferente (e quando eu digo totalmente é totalmente mesmo), de sua esposa Mildred. 

A garota é extrovertida, falante e questionadora, Montag acha a menina louca inicialmente, mais instigante a ponto de fazê-lo questionar sobre a sua própria vida, como por exemplo, a sua felicidade conjugal, seu trabalho e, principalmente, sobre o seu próprio senso crítico.

Cumpre frisar, que há uma guerra acontecendo ao redor de tal sociedade, mas as pessoas simplesmente ignoram tudo o que está ao seu redor. Aqui o ignorar é no sentido de não se importarem com o que está acontecendo (totalmente alienados). Como se tal informação não passa na TV, então ela não é importante.

Com este despertar, Montag se depara com uma profissão que, até então era a coisa mais certa da sua vida, mas que agora é vista sem mérito algum; depara-se também em um casamento distante e vazio, ao ponto de não se lembrar como eles se conheceram ou se realmente se amaram algum dia.

E aqui, eu comento de outra característica despertada em Montag, a curiosidade em descobrir o motivo pelo qual os livros são queimados. É neste momento que nosso protagonista questiona o conteúdo dos livros por ele incinerados.

Com esta mudança de pensamento, Montag se torna uma ameaça a própria Corporação, sendo por ela caçado como fugitivo e criminoso. E aqui, eu encerro este tópico da minha resenha, para que você mesmo tenha a sua experiência literária.

SOBRE A INDICAÇÃO DO LIVRO AO PROJETO E MINHA EXPERIÊNCIA DE LEITURA

Mais um livro clássico e atemporal lido neste projeto. A forma com que a ficção se assemelha a nossa realidade é gritante e assustadora ao mesmo tempo, no sentido de que somos uma sociedade que pouco lê e cada vez menos nos interessamos pelo conhecimento da literatura.

Vemos que a televisão e redes sociais estão cada vez mais engolindo o interesse pelo conhecimento, o que podemos verificar pela quantidade de reality shows tanto na TV aberta quanto em serviços de streaming. Até mesmo, a “necessidade de consumo” de um determinado produto ou marca divulgado por artistas ou até influenciadores digitais, como se tal coisa fosse a causa determinante de nossa felicidade.

Nota-se, portanto, que a televisão, redes sociais, bem como as pessoas podem ser vistas como caixas de fósforo prontas para incendiar o nosso conhecimento. Mas você está recomendando parar de ver TV ou de ter rede social? 

Primeiro, ninguém é obrigado a fazer ou a deixar de fazer, senão em virtude da lei. Em segundo, eu não condeno nenhum meio de comunicação, mas sim a falta de senso crítico, como uma forma de alienação, que a nossa sociedade como um todo vem deixando de lado com o passar do tempo.

Trago a baila um trecho do texto de apoio contido nesta edição, escrito pelo autor Neil Gaiman, o qual ilustra perfeitamente, o significado dos livros, bem como da educação do nosso imaginário:

“A ficção nos dá empatia: ela nos coloca na mente de outras pessoas, nos dá a capacidade de ver o mundo através de seus olhos. A ficção é uma mentira que nos diz verdades repetidas vezes.”

Por fim, se eu pudesse dar um conselho para sua vida, meu caro leitor, seria continuar lendo, continuar aprendendo e sendo curioso, pois tais hábitos nunca poderão ser tirados de você e sempre servirão para moldar a sua opinião e senso crítico do mundo ao seu redor.

Um beijo e até o próximo post!!

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